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“Ouvir e ler, sem medo de falar” e “curiosidade”: receitas de Paulo e Tomásia para aprender português

“Ouvir e ler, sem medo de falar” e “curiosidade”: receitas de Paulo e Tomásia para aprender português

Formador de Tétum Jurídico do CFJJ e o docente convidado do curso de Mestrado em Ensino do Português no Contexto de Timor-Leste, na UNTL, Paulo Henriques.

DÍLI, 05 de maio de 2024 (TATOLI) – Mais do que uma obrigação imposta por uma instituição, mais do que uma necessidade ditada pelas regras do mercado, mais do que uma boa classificação valorizada pelas escolas, aprender português para Paulo e Tomásia nasceu de características pessoais e intrínsecas. Ouvir, atentar, ler, falar e ter curiosidade em saber imperaram como receitas para apender português. Tanto, ou tão bem, que a Tatoli teve oportunidade de lhes fazer perguntas em língua portuguesa e obter respostas em igual idioma.

São dois jovens. O primeiro é Paulo Henriques, formador de Tétum Jurídico do Centro de Formação Jurídica e Judiciária e docente convidado do curso de Mestrado em Ensino do Português no Contexto de Timor-Leste, na Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL). Vive em Kulu Hun, Díli. O segundo é Tomásia Carlos Madeira, 24 anos, licenciada em Relações Internacionais pela UNTL. Vive Motael, Díli, e é funcionária da Organização Não-Governamental Fórum de Comunicação para Mulheres Timorenses.

Paulo Henriques: De “difícil de perceber no início” à “fluência natural”

“Comecei a ter paixão por esta língua em 1999, depois da consulta popular, ouvindo músicas brasileiras. Na altura, eu ainda era miúdo. A minha família e eu vivíamos perto de uma Escola Básica, em Ritabou, em Maliana”, lembra Paulo. Recorda ainda que o seu pai era professor naquele estabelecimento do ensino. “Uma vez que eu ainda não andava na escola, devido à interrupção forçada pelas milícias pró-Indonésia, aproveitei para assistir às aulas dos professores do 2.º ciclo. A maior parte das aulas era em português. Eu não tinha livros em casa e nem falava português na família. Aquela era a única via para eu conseguir adquirir algum hábito”.

Frisou que quando a sua escola básica do 3º ciclo, em Maliana, foi reaberta, já tinha algum conhecimento rudimentar do idioma e foi aprendendo gramática com alguns professores portugueses apesar de ser “difícil de perceber no início”. A escola em apreço era “um espaço onde aprendi a organizar o meu horário de estudo e a aperfeiçoar o meu conhecimento linguístico. Por ser um apaixonado pelo idioma de Camões, quando concluí o ensino secundário no Colégio Infante Sagres, em Maliana, ir para a universidade era o passo natural seguinte”.

Conta que concorreu para o curso de Ensino de Língua Portuguesa na UNTL, mas não foi admitido. Ingressou, então, num ano propedêutico para aprimorar o seu conhecimento linguístico em português. “Tudo era novo e desafiante para um indivíduo cujo português não era a língua materna e que nunca tinha tido antes senão contatos informais com o idioma tanto na família como na sociedade”, evoca. Paulo Henriques destaca que criou regras para progredir no português, por motu próprio: além de contactos com amigos que falavam algum português, assegurou que todas as noites, logo após o telejornal em tétum, assistia a programas da RTP.

Ingressado, frequentado e terminado o curso, corolário deste percurso foi a ida a Portugal. Lembra Paulo: “tive oportunidade de ir a Portugal continuar os meus estudos de mestrado e de doutoramento em duas universidades prestigiadas na Europa e no mundo: a Universidade do Porto e a Universidade do Minho”. Para o docente, a melhor forma de aprender português é “ouvir bastante, ler e não ter medo de falar”. Sem esta “espécie de sistema tripartido, mas integrado”, seria muito mais difícil desenvolver a competência linguística em português. Hoje o português flui-lhe naturalmente.

A seu ver, a língua portuguesa em Timor-Leste está a desenvolver-se paulatinamente. “Há obviamente progressos ao longo destes últimos vinte anos. Se olharmos para as estatísticas de 2002, a percentagem de falantes de português em Timor-Leste era apenas 5%, mas hoje já falam de cerca de 40%. Houve um progresso significativo”, especifica.

“No entanto, há problemas” já que, na opinião do docente, “a língua portuguesa continua a ser pouco usada pelo povo, pela comunicação social, embora haja algum predomínio “enquanto língua de escrita nos documentos oficiais do Estado”. “Não chega”, diz perentoriamente.

Dentro e fora das esferas em que exerce a suas funções, Paulo formula: “é preciso juntar esforços para apostar mais na educação, nos tribunais, nos jornalistas, entre outros, e deve haver alguma vigilância por parte do estado para não haver o incumprimento legal por parte de empresários e de negociantes tanto nacionais como estrangeiros, isto é, só se devem fazer publicidades em português e em tétum como previsto na lei n.º 1/2002, de 7 de agosto e o decreto n.º 1/2004, de 14 de abril”.

 Tomásia Madeira:  “o português é a língua par do tétum”

Tomásia Carlos Madeira

Tomásia Madeira é outro exemplo de jovem apaixonada pela língua.  “Comecei a aprender a língua portuguesa na escola, mas não foi suficiente”, assegura. A seu ver, ouvir música em português, comunicar com a família e com colegas em igual idioma são vias importantes para aprender a língua.

Para a jovem, é fundamental dominar a língua portuguesa porque é uma das línguas oficiais.  “Frequentei uma formação de língua portuguesa nos níveis A2 e B2 na Fundação Oriente para aumentar os meus conhecimentos”. Tomásia não escamoteia a “sua” realidade: “o português é a língua par do tétum”.

“Se frequentarmos formação em português, mas não o comunicarmos em ambiente de trabalho, mantendo a exclusividade linguística em tétum, significa que não nos estamos a esforçar para dominar aquela língua”, diz Tomásia, cabalmente.

E a industriosa jovem teve clarividência para lembrar que a língua portuguesa em Timor-Leste está a desenvolver-se, porque atualmente alguns órgãos de comunicação social produzem diariamente conteúdos em português e algumas instituições públicas “exigem aos candidatos que apresentem habilitações literárias em português e dominem o idioma”. Mas, tal como Paulo, “não chega”. Por isso Tomásia não se acanhou em apelar a Governo e, especificamente,  ao Ministério da Educação, que apostassem no ensino da língua portuguesa.

O dia 5 de maio é o Dia Mundial da Língua Portuguesa. A data foi decidida em 2009 pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e depois confirmada em 2019 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, tornando a data oficial no calendário das Nações Unidas. Dia 5 de maio é o dia de união e de comunicação entre os 270 milhões de falantes de português nos nove países de língua oficial portuguesa.

Paulo e Tomásia tinham, finalmente, mais uma coisa em comum. Eles sabiam que no dia 5 de maio se celebra o  Dia Mundial de Língua Portuguesa. Quando falamos com eles, exprimiram-se em português. Não por ser 5 de maio. Mas por ser maio ou qualquer outro mês, por ser 05 ou qualquer outro dia. Por ser em português.

Notícia relevante: CAFE de Ainaro assinala Dia Mundial da Língua Portuguesa

Jornalista: Isaura Lemos de Deus

Editor: Rafael Belo

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