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Desnutrição coloca em risco “gerações futuras” do país

Desnutrição coloca em risco “gerações futuras” do país

Julião pereira, 12 anos, internado no HNGV. Fotografia/David Cabral.

DÍLI, 02 de dezembro de 2022 (TATOLI) – Julião Pereira, de Lautém, tem 12 anos e sofre de desnutrição, desde os 8. O alarme soou quando o menino começou a apresentar sintomas de febre e diarreia. Os pais ao perceberem que o filho começou a perder peso dia após dia, resolveram levá-lo ao centro de saúde mais próximo, em Lospalos.

No espaço de saúde, após consulta médica e com diagnóstico inconclusivo, foi-lhe prescrito apenas “amoxicilina e suplementos vitamínicos”, conta o pai. Passados alguns meses, o estado de saúde da criança piorou e os médicos aconselharam os pais a internar o Julião no Hospital de Referência de Baucau. No entanto, devido à falta de equipamentos médicos acabaria por ter ser transportado para o Hospital Nacional Guido Valadares (HNGV), em Díli.

“Parece mentira. Um adolescente de 12 anos a pesar menos de 35 quilos”, desabafa o pai, Cristiano Pereira, com os olhos postos na fragilidade do filho.

Julião chegou à sala de emergência do HNGV já em estado grave. “O seu filho pode não sobreviver ”, o pai sentiu o chão a fugir-lhe dos pés e exclamou em desespero “oh Deus, ajuda-nos”.

Desde 2019 que Julião sofre de desnutrição, sem que os progenitores tivessem qualquer conhecimento da doença até ao dia em que a criança foi internada no HNGV. Nesse dia ficaram a saber que a má nutrição já tinha desencadeado vários problemas graves, nomeadamente, fibrose pulmonar, problemas no abdómen, e dengue, que punham agora em risco a vida do seu filho. Tudo consequências da fraca resposta do sistema imunitário da criança.

Cristiano conta que só quando Julião perdeu peso de forma descontrolada é que os pais lhe começaram a dar uma alimentação mais equilibrada, mesmo sem ter um diagnóstico do problema de saúde da criança. “Embora não tivéssemos muito dinheiro, a cada três dias, ele comia peixe, ovos, vegetais e outros alimentos. Mas o seu estado físico continuou na mesma, sem qualquer melhoria. Estava cada vez mais fraco e emagrecia a cada dia”.

Julião continua internado no HNGV. Já passaram quase três semanas, mas já não corre perigo de vida.

Adelfina da Cunha, uma menina de 1 ano e 9 meses, encontra-se na mesma situação. Está internada no HNGV há mais de um mês. A bebé pesa apenas 5,4 quilos e mede 60 centímetros.

A bebé e os seus pais vivem em Behau, Manatuto. Os progenitores confessam que desconheciam a forma de confecionar refeições equilibradas e queixam-se da falta de campanhas de sensibilização sobre nutrição no município onde moram.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, entre janeiro e setembro deste ano, 2.063 crianças timorenses foram diagnosticadas com desnutrição. Julião e Adelina fazem parte da lista das 428 crianças que sofrem da doença na sua forma aguda. As outras 1.625 apresentam a patologia na forma moderada.

É sabido que a subnutrição ocorre quando existe um défice de nutrientes essenciais na dieta de uma pessoa, tendo consequências no crescimento muscula e ósseo, na saúde física e mental, além de colocar em risco outras funções vitais.

Miguel Soares, docente do Departamento da Nutrição da UNTL. Fotografia/Rohim Putra.

Segundo Miguel Soares, docente do curso da Nutrição e Dietética da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), muitos fatores contribuem para o aumento de casos de subnutrição e nanismo no país. “Baixo rendimento de muitas famílias timorenses, falta de conhecimentos sobre uma dieta equilibrada, escassez de ações de sensibilização junto dos moradores nas zonas mais remotas e falta de ações concretas do Governo”, aponta o docente.

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“Se estamos a pensar no destino do país, as crianças e os adolescentes são o futuro, por isso o Governo e os pais devem prestar atenção ao seu crescimento. Uma nutrição adequada é essencial para ajudar ao desenvolvimento dos nossos filhos”, alerta.

Milhares de crianças, que sofrem de má nutrição, “são  um desafio para o país”. Este problema “afeta significativamente o crescimento intelectual e físico das gerações futuras”. Julião, Adelina e as outras 2.061 crianças diagnosticadas são o futuro deste país. O Estado não pode depositar todas as esperanças apenas nas infraestruturas e no petróleo, é preciso pensar na saúde destas crianças, que vão ser os adultos de amanhã. É preciso pensar “o que pode ser feito para não colocar em risco o futuro das novas gerações de Timor-Leste?”.

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Equipa da Tatoli

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