DÍLI, 14 de fevereiro de 2025 (TATOLI) – O Centro de Estudos, Cultura e Arte (CECA) da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL) organizou o lançamento do livro A Música da Resistência como Repertório Popular na Afirmação da Identidade Nacional e da Identidade Cultural do Povo de Timor-Leste da autoria de Cipriana Santa Brites Dias.
A autora explicou que a ideia de escrever o livro em causa surgiu após concluir a sua tese de doutoramento em Estudos de Cultura, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em Portugal.
Segundo Cipriana Dias, no período da luta pela independência de Timor-Leste, entre 1975 e 1999, as músicas eram instrumentos de mobilização popular e de divulgação dos valores culturais herdados pelos antepassados.
A propósito, a autora escolheu quatro canções da resistência timorense — Eh Foho Ramelau, Nahe Biti Bo’ot, Lemo-Lemo Rai e Oras To’o Ona-Hakotu Ba — para o seu estudo exploratório, uma vez que, no período da luta, aquelas eram consideradas como um espaço de partilha, de comunicação e de manifestação da identidade do povo timorense na luta pela independência do país.
“Estas quatro canções foram reconhecidas como a arma e a alma do povo sem voz, sem alma e sem armas ao longo da luta pela independência. Cada uma delas tem caraterísticas próprias, intimamente ligadas ao espírito de luta e resistência dos antepassados, e esse espírito está patente na letra, no som, nos ritmos e na melodia da música de resistência”, disse Cipriana Dias disse, à margem do lançamento da obra realizado na Fundação Oriente, em Díli.
A escritora explicou que cada música tem “letras muito poéticas e metafóricas como uma lâmpada que ilumina o caminho do povo para resistir e vencer”.
A autora espera que o seu trabalho possa ajudar os timorenses, em particular os jovens, a conhecer e compreender a própria cultura, de modo a reforçar a afirmação da identidade do povo.
Por sua vez, o Diretor do CECA, Vicente Paulino, na sua intervenção, referiu que a autora as quatro canções abordadas na obra contribuem para que as novas gerações conheçam, memorizem e valorizem a resistência do povo que é contada na música. Segundo o dirigente, a obra tem duas dimensões fundamentais “toca a alma e toca a arma”.
“As letras da música eram como armas que encorajaram os timorenses a enfrentarem uma ocupação tão prolongada. Cada letra tinha a alma e manifestava um sentido patriótico, ou seja, cada letra tocava no coração dos timorenses para que nenhum deles desistisse da luta, pois os esforços valiam a pena e a independência era alcançável”, referiu.
Cipriana Dias nasceu em Bidau Massau, em Díli, a 26 de setembro de 1973. É, neste momento, docente no Departamento de Formação de Professores do Ensino Básico da Faculdade de Educação, Artes e Humanidades da UNTL.
Doutorada em Estudos de Cultura pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em (2023). Mestre em Ciências da Educação, especialização em formação de professores, pela Universidade do Porto, em Portugal (2015), e licenciada em Educação Religiosa pela Sanatha Dharma University, na Indonésia (1998).
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Jornalista: Afonso do Rosário
Editora: Isaura Lemos de Deus