DÍLI, 29 de outubro de 2023 (TATOLI) – Preparar e gerir um orçamento mensal, identificar prioridades na gestão doméstica, conhecer da arte de comprar com economia e saber aprovisionar (literacia económica), confecionar refeições saudáveis a baixo custo, cuidar da administração saudável e higiénica de instalações, ter conhecimentos (e aplicá-los) em puericultura (cuidar de crianças muito novas), entre muitos outros, são poucos de muitos mais exemplos de tarefas que cabem na definição cuidados domésticos não remunerados, tarefas que, esmagadoramente e a nível global, estão adstritas a mulheres.
A natureza daquelas tarefas, na sua essência, não difere muito dos princípios de gestão de uma instituição, de uma região ou de uma nação. “Quem sabe gerir uma casa, sabe gerir um suco”, afirmou Lídia Norberta em agosto. Estudo da OXFAM e da Australian Aid revelou que as mulheres timorenses dedicam semanalmente mais do triplo de horas de trabalho não remunerado em comparação com os homens.
Para celebrar o Dia Global de Ação sobre os Cuidados Domésticos, 29 de outubro, a Oxfam em Timor-Leste divulgou os resultados de um estudo sobre aquele tipo de trabalho. O estudo incidiu sobre padrões e perceções que as pessoas têm sobre o trabalho relacionado com os cuidados domésticos e que incluem tarefas como cuidar de crianças, cuidar de familiares doentes ou idosos, cozinhar refeições, limpar e recolher água – em seis comunidades rurais nos municípios de Oé-Cusse, Liquiçá e Covalima.
Sabe-se que a carga desproporcional de trabalho não remunerado de cuidados para as mulheres pode ter impacto na sua saúde e bem-estar e limitar as oportunidades de educação e emprego, bem como a participação em actividades sociais e políticas. A este nível, o estudo realizado em Timor-Leste concluiu que as funções de prestação de cuidados estão claramente divididas em função do género, cabendo às mulheres o cuidado das crianças, a preparação das refeições e a limpeza.
Acresce que as mulheres estão em maior desvantagem em termos de tempos de lazer para si do que os homens, devido ao seu trabalho produtivo nos campos, bem como à circunstância de fazerem aquelas tarefas sem remuneração. Por exemplo, em três das áreas-alvo, o estudo apurou, como se referiu, que as mulheres realizam, em média, 57 horas por semana de trabalho não remunerado, em comparação com 17 horas para os homens.
Os resultados revelaram ainda que as mulheres estão sujeitas a fortes normas e expectativas sociais em matéria de trabalho não remunerado, nomeadamente no que se refere à prestação de cuidados a crianças e familiares, enquanto as mesmas para os homens são mínimas. Ainda assim alguns inquiridos neste estudo afirmaram que gostariam de alterar este padrão de trabalho de género. Foi o caso de uma senhora de Covalima que afirmou: “Com base na nossa cultura, as mulheres devem ficar em casa. Há muito tempo, como mulheres, ficávamos na cozinha. Mas agora, os tempos mudaram. Queremos estar fora de casa … participar em reuniões na aldeia juntamente com os líderes locais. Queremos ter acesso à educação e aos cuidados de saúde. Eu quero ter acesso a estas coisas”.
A investigação de Timor-Leste alinha-se com os dados da Organização Internacional do Trabalho, que conclui que, globalmente, 76% de todas as tarefas de cuidados não remuneradas são realizadas por mulheres, mais do triplo das realizadas por homens.
O Diretor Nacional da Oxfam em Timor-Leste, Fausto Belo Ximenes, afirmou, a este propósito: “Esperamos que isto [estes resultados] dê início a mais debates para reconhecer, redistribuir e reduzir o trabalho de assistência não remunerado e, em última análise, empoderar mais mulheres timorenses para se envolverem em oportunidades económicas”.
A investigação foi realizada em colaboração com três parceiros locais da OXFAM em Timor-Leste: Masine Neu Oé-Cusse (MANEO) e Binibu Faef Nome (BIFANO) em Oé-Cusse e Instituto Kdadalak Sulimutuk (KSI) em Liquiçá e Covalima. A investigação e a campanha fazem parte do projeto de capacitação económica das mulheres da OXFAM em Timor-Leste, Hakbi’it, que é apoiado pelo Governo australiano através de um Programa de Cooperação com ONGs Australianas (ANCP).
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Jornalista: Afonso do Rosário
Editora: Isaura Lemos de Deus