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Palapa, zinco e tábuas: às vezes as lições também acontecem fora da sala de aula

Palapa, zinco e tábuas: às vezes as lições também acontecem fora da sala de aula

Processo de apredizagem na Escola Básica Filial Kamlai. Foto/FB.

DÍLI, 22 de agosto de 2023 (TATOLI) – “Não há quase nada, mas há vontade de ensinar e aprender”, quem o diz é a professora Olandina Lopes de 38 anos, docente na Escola Básica Filial Kamlai, em Maubisse. Zinco, palapa, tábuas e fundações de cimento e assim se ergueu, sobre terra batida, uma escola. A obra, financiada pelos encarregados de educação, permitiu que 89 crianças não precisassem de calcorrear caminhos tortuosos durante duas horas e atravessar uma perigosa ribeira, sobretudo na época das chuvas, para chegar à escola mais próxima, a Escola Básica Central 123 de Maubisse.

Não é uma situação assim tão incomum. Quer as condições precárias de construção, quer a falta de material, quer a falta de acessos adequados são realidades que caracterizam muitas das escolas das ditas áreas remotas, muito remotas ou extremamente remotas, do parque escolar timorense. Ribeiras que transbordam, impedindo o acesso de alunos à escola do seu itinerário de casa também não são raras. O que é incomum nesta situação é a diligência da docente local em manter as portas abertas da escola e o processo de ensino-aprendizagem em andamento contra a vontade de alguns decisores políticos e favorecendo as revindicações parentais.

Questionada sobre como organiza o processo de ensino-aprendizagem, a professora explicou que escreve no quadro negro, esclarece conceitos e atribui tarefas: “Já me estou a habituar a este ritmo e a esta correria. Leciono duas disciplinas por dia. Por vezes, sinto um pouco de stress, porque enquanto estou com uma turma, os estudantes da outra ficam sem orientação, então tenho de me desdobrar para conseguir chegar a todos eles”, ainda assim, entre e uma outra sala, Olandina Lopes, disse orgulhosamente que procura “tornar a aprendizagem o mais lúdica possível”.

Alunos da Escola Básica Filial Kamlai. Foto/FB.

Assim se resume esta história: a constatação da falta de condições foi notada pelo Ministério da Educação. Este indicou o seu encerramento. Os pais dos alunos, conscientes do perigo de atravessar uma ribeira que por vezes transborda o caudal no caminho para outra escola, pediram à professora para continuar. Estes estavam dispostos a pagar o seu salário. A docente acedeu. A escola continua a funcionar. O Ministério da Educação anuiu em construir uma melhor escola na mesma zona. Todos estão felizes? Não, mas estavam mais infelizes quando sob a escola pairava um cenário de extinção.

Para a professora, os problemas não se ficam pela elevada quantidade de alunos numa turma. Na sua opinião, “as infraestruturas são inadequadas, a chuva é uma ameaça constante. Não há casas de banho, não há cadeiras, nem mesas suficientes, não há materiais didáticos, não há manuais escolares. Não há quase nada, apenas vontade de ensinar e de aprender”. Olandina  reconhece que, apesar do seu esforço, a falta de quase tudo compromete a aprendizagem dos estudantes.

Questionada, a Diretora Interina da Escola Básica Central 123 de Maubisse, Senhorinha Araújo, explicou que a direção, atendendo às más condições da escola, pediu ao Ministério da Educação Municipal de Ainaro, para a encerrar. Assim que soube, Olandina Lopes começou a preparar-se para deixar os seus “meninos”. Um apelo dos pais sensibilizou-a. Pediram-lhe que continuasse a lecionar e, caso o Ministério da Educação não o fizesse, comprometeram-se a pagar-lhe o salário. Perante isto, disse, “o amor pelo ensino e a empatia que sinto pelas preocupações dos pais, fizeram-me continuar com as aulas”.

Hoje, ainda há esperança para Olandina e os seus 89 pupilos. Segundo Agostinho Soares, Diretor Nacional de Desenvolvimento do Parque Escolar do Ministério da Educação, o ministério da tutela fez uma inspeção à escola e, com base no relatório dessa inspeção, decidiu incluir a construção de uma nova escola no plano de 2024. “É indiscutível que esta escola se encontra num estado extremamente precário e inadequado”, declarou o diretor. Por isso mesmo, contou que o Ministério da Educação a incluiu no plano de construção de infraestruturas escolares. “Prevemos construir três salas de aula, instalações sanitárias e uma sala para os professores. Estimamos que a construção arranque no início de 2024”.

Um final feliz para Olandina Lopes e seus alunos ainda não aconteceu. Entretanto, a professora garante que, ao ritmo do vento e ao som da chuva a bater fortemente no zinco, os 89 estudantes continuarão a ter lições. E se, nesta história, alguém nos deu uma lição foi Olandina. De apelido Lopes.  Com zinco, palapa e tábuas.

Equipa da TATOLI

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