DÍLI, 18 de janeiro de 2023 (TATOLI) – Medalhada em competições internacionais (Indonésia, Austrália e Tailândia) e representante da seleção feminina paralímpica de ténis de mesa, Pascoela Pereira, 42 anos, é uma das atletas timorenses mais premiadas da atualidade.
Recebeu a sua última medalha de ouro nos Jogos Internacionais da ASEAN, que decorreram no ano passado, em Solo, na Indonésia. Na ocasião, junto com Abelita Soares, venceu a competição na modalidade de pares. Noutras três competições no exterior, venceu uma e ficou em segundo lugar nas demais.
Referência no desporto, Pascoela tem uma deficiência motora e sonha em continuar a competir. “Foi muito difícil chegar onde cheguei. Agora, quero disputar e vencer campeonatos, cada vez mais”, afirmou.
Para isso, apoios são necessários. Sem patrocínios, Pascoela, mesmo elevando o nome de Timor-Leste nacional e internacionalmente, é apoiada apenas pela Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto. A ajuda serve para os custos de deslocação, estadia e alimentação aquando da disputa das competições – além de um subsídio pelas boas participações.
A atleta, que vive em Díli, revelou que, quando nasceu, era saudável. Aos dois anos, teve uma doença e o seu corpo ficou paralisado durante dois anos, só conseguindo sentar-se e rastejar. Após um tempo, os pais levaram-na a um avô curandeiro, onde passou a ser tratada. “Finalmente, consegui andar um pouco, mas tive de usar um pau para ficar de pé”, contou.
Pascoela narrou que o seu pai sempre se esforçou para que ela completasse os estudos. O progenitor levava-a à escola e ajudava-a nas tarefas escolares. “Levava-me para todo o lado. Para onde ele ia, eu ia também”, resumiu.
Em 1999, Pascoela concluiu o ensino secundário no Colégio Paulo VI, em Díli. Foi nesta altura que encontrou um profissional de saúde que lhe recomendou um tratamento na Indonésia. “Fiz uma operação na Ilha das flores. Alguns ferros foram montados nos ossos dos meus pés”, disse.
A atleta lembra-se que, quando terminou a operação, tentou andar, mas caiu muitas vezes. “sentia muitas dores nos ossos, porém, continuei a tentar e não parei. Senti-me muito feliz porque tinha esperança de voltar a andar”, recordou. Algum tempo depois, Pascoela já andava sem o apoio do pau.
“No desporto, sinto-me mais sociável”
Em 2005, após a morte do pai, Pascoela sentiu que a sua vida se tornou sombria e refugiou-se em casa. Foi a paixão pelo desporto que a ajudou a superar o momento difícil.
A vontade de praticar ténis de mesa motivou-a, pouco a pouco, a sair de casa. “Depois de me envolver no desporto, sinto-me mais sociável”, contou.
Pascoela diz que o mundo desportivo trouxe um outro significado à sua vida, porque teve a oportunidade de se reencontrar e aprender coisas novas.
A atleta salienta que tem o apoio da família e amigos, mas que não se esquece de Deus. Apesar de enfrentar muitos desafios, Pascoela tem um pensamento positivo sobre a vida. “não podemos ver a nossa condição [de deficiência] com um olhar pessimista”.
Em 2011, na sua primeira competição internacional, na Tailândia, Pascoela ficou chocada quando viu que outros atletas paralímpicos estavam em condições mais delicadas do que ela. “Por exemplo, alguns jogadores precisaram de assistência com oxigénio, outros tinham mãos prostéticas. Todos, contudo, jogavam com muita vontade e qualidade”, destacou.
Na altura, ainda um tanto rígida nos movimentos, não teve um bom desempenho. “Tive problemas quando um adversário bateu a bola para o canto da mesa. Não me consegui adaptar à partida. Às vezes, quando sou descuidada, caio debaixo da mesa”, disse.

A atleta e os seus amigos não param de aprender com o seu treinador da Federação de Ténis de Mesa, Rogério Soares. “os jogadores precisam de paciência e de muito treino, porque aprender ténis de mesa não é fácil”, observou o treinador.
O treino tem dado resultado. A vitória na competição da ASEAN no ano passado foi muito celebrada. “Nunca imaginei que pudéssemos conquistar uma das mais importantes competições internacionais, sobretudo vencendo a Tailândia, que é conhecida por ser a melhor”, comemorou Pascoela.
A atleta e Abelita choraram de alegria quando a bandeira de Timor-Leste foi içada enquanto se ouvia o hino nacional. “Chorei porque me senti muito feliz. Lembrei-me dos sacrifícios dos nossos heróis que morreram durante a guerra para conquistar a liberdade. E esta liberdade fez-nos ter esta oportunidade de vencer. Agradeço a Deus pela graça que nos deu”, afirmou.
Equipa da TATOLI