Nesta data de 31 de Dezembro de 2022, data dos heróis tombados pela pátria Timor-Leste. Uma data de tristeza para os timorenses da resistência de então, pois foi nessa data (31 de Dezembro de 1978) que o Fundador, 2º Presidente da República Democrática de Timor-Leste e Comandante-em-Chefe das Falintil, Nicolau dos Reis Lobato (Guterres, 2014, p.227), morreu em combate no vale de Mindelo, entre Maubisse, Turiscai e Manufahi (Guterres, 2014, p.299). Mesmo assim, é uma data de encorajamento e de memorização, porque reflete-se sobretudo a valorização de um passado histórico como uma forma de revitalização do nosso pensamento para concretizar o sonho dos heróis martirizados. Valorização de um passado histórico não pode ser simbolizado pelas cantigas de contar histórias todos os dias em palcos políticos e em cenários diversos (como nas entrevistas, nas conferências e na celebração dos dias nacionais). Valorização de um passado histórico pode ser fundamentado com a realização das obras nacionais com a máxima responsabilidade, isto é, colocar ideias visionárias em prática e/ou em concreta realização. Revitalizar o nosso pensamento significa olhar para o passado histórico para visionar o presente com a política de desenvolvimento nacional.
Nesta data histórica que apresentamos este pequeno texto para abrir a nossa mente que desenvolver um país não é apenas contar histórias, mas colocar ideias em prática.
Desenvolver um país não é apenas contar histórias, mas colocar ideias em prática. Ideia de prosperar o povo, ideia de construir infraestruturas com qualidade, ideia de colocar a educação como centro de criação do homem novo, ideia de produzir médicos qualificados, ideia de como melhorar as infraestruturas hospitais de qualidade, ideia como se produz receitas para o estado, ideia como confiar na nossa capacidade para desenvolver o país e prosperar a vida do nosso povo. Isto é, confiar na nossa capacidade que “ita mós bele”, se afirmamos “ita mós bele”, significa que reconhecemos aquilo que o nosso Presidente da RDTL Nicolau Lobato afirmava em 1974 nos seguintes enunciados: ”A libertação não é uma dádiva; é uma conquista. Todos os povos lutaram para a conquistar. É uma constante histórica. [Mas não é contar histórias todos os dias, o que vale mais é colocar ideias em prática]. Para libertar é preciso lutar. Porque havemos nós de fazer excepção!” (Nicolau Lobato, Setembro 1974, sublinhado nosso).
Esta mensagem de Nicolau Lobato é muito pertinente para ser utilizada como uma clara visão para desenvolver o país e prosperar o povo. Por isso, para desenvolver o país é preciso colocar ideias visionárias em prática, porque falar muito em público e/ou em reuniões não servem para nada, se não colocam ideias e planos em prática ou em concreta realização. Vale a pena falar pouco, a obra fala como concretização das ideias. Porque dizia Nicolau Lobato, “A hora não é só de alegria. É também e sobretudo de Responsabilidade. Responsabilidade significa mais trabalho, mais esforço …” (Nicolau Lobato, Setembro 1974). Portanto, usar o tempo com responsabilidade é dar toda a energia ao trabalho para mudar o país ao rumo de desenvolvimento sustentável. Ser responsável é ouvir a voz do povo e cumprir a promessa dada ao povo durante a campanha eleitoral.
Está na hora todos nós refletimos com coração aberto e alma nobre sobre o sentido de desenvolver um país não é apenas contar histórias, mas colocar ideias visionárias em prática. Não precisa falar muito para desenvolver um trabalho, o que importante é mostrar a nossa capacidade de “dizer é fazer”. Nesse sentido, emprestamos a fala do nosso Presidente da RDTL Nicolau Lobato que dizia: “Ora é preciso que estes passos não sejam vacilantes, pelo contrário, firmes e vigorosos. Nesta ordem de ideias chamamos sobre nós, sem hesitação a magna responsabilidade, a ingente tarefa, a sublime missão de intérpretes do ineludível sentir, pensar e vontade de libertação do valoroso Povo de Timor-Leste e decidimos em nome do povo dar mais passos em Frente. Passo firme, passo decidido, passo histórico” (Nicolau Lobato, Setembro 1974).
E assim está na hora de colocar ideias visionárias em prática para fazer total transformação da vida do povo e do país. Colocar as ideias visionárias em prática é uma responsabilidade, é também de homenagem aos mártires pela pátria e pelo povo. Todos nós temos obrigação de recordar passos históricos para visionar o futuro do povo e do país. Recorcar passos históricos não é ficar em pé na tribuna do Palácio, na tela televisiva e na tribuna da campanha, a contar histórias, mas procurar visionar a vida do povo e do país com claras ideias e pôr-las em prática. Porque, emprestamos de novo as palavras de Nicolau Lobato: “…Vós não compreendeis porque o nosso povo não pode pôr a questão dos recursos. É porque o nosso povo é por si mesmo o maior recurso que possui a nossa terra” (Nicolau Lobato, apud Gusmão, 2018, p.95).
Se o nosso povo é o maior recurso da nossa terra, está na hora de o fazer feliz com a construção de boas estradas e pontes, a construção de boas escolas e bons hospitais, etc.
É bom recordar também a mensagem do Natal que Nicolau Lobato enviou ao povo timorense, eis as suas palavras: “O nosso povo precisa, reclama libertar-se porque é e sente-se oprimido. Oprimido por mil e uma enfermidades que o colonialismo criou e agravou” (Nicolau Lobato, 25 de Dezembro de 1974). Pelo facto o colonialismo já foi-se ou já não existe, mas o nosso povo contínua a sentir-se oprimido dentro da sua própria terra, porque:
- As estradas urbanas e rurais tão ruim como a própria da terra batida. Exemplo: a estrada de Oé-Cussi que liga o posto adminsitrativo de Oesilo e Passábe, tão ruim e faz com que aqueles que passam por lá todos os dias ficam com ossos quase partidos; estradas na direçaõa de rotunda Maliana Vila até ao Catedral e até ao Bobonaro, Bobonaro até a região de Atsabe e a região de Zumalae, estão totalmente danificadas, o pior ainda é as estradas rurais quase de terra batida sem alcatroada; as estradas urbanas da região de Ermera também quase totalmente danificadas ou destruídas; a mesma condição também é observada e vista nas zonas urbanas da região de Baucau, Viqueque, Lospalos, Manatuto, Same, Ainaro, Suai e Aileu, incluindo as de Liquiça);
- Muitas estradas estragadas ou danificadas, ou praticamente desaparecidas, sem dar necessária atenção por parte do governo central e das autoridades municipais em recuperá-las, como no caso da estrada localizada na zona de Comoro Mota-Ulun que até agora não está a ser requalificada ou reconstruída, como a voz do povo dizia assim: se iha Díli mak hanesan ne’e sá, kala ami sira iha munisípiu ka postu ka suku ne’e sá hela naran de’it;
- Muitas pontes danificadas ou destruídas, ou praticamente desaparecidas. Exemplo, a ponte que liga Viqueque e Ossu está cortada, a ponte que liga Hatolia (Ermera) e Cailaco) está também danificada, a exterior da ponte sobre o rio de Loes também está danificada e até agora nenhuma autoridade – nem autoridade nacional nem autoridade municipal) – dá atenção esta situação com seriedade;
- Muitos edifícios escolares estão em condições precárias, a insuficiência das cadeiras na sala de aula, e isso faz com as crianças frequentam as aulas no chão;
- Muitos hospitais sem terem mínimas condições;
- Falar de “quase mil vezes” sobre a construção do aeroporto de Díli, mas nunca se realiza até ao momento;
- Falar de criação de 60 mil do campo de trabalho prometidos, mas nunca se cumpre a promessa até ao momento;
- Falar de ró Haksolok para dar alegria ao povo, mas nunca aparece no nosso país, nem a sua própria sombra aparece no mar de Timor ou no Porto de Díli e de Oé-Cussi;
- Falar de valorização da cultura, mas a construção do museu e biblioteca nacional e bibliotecas mucipais não se realiza até ao momento.
Sem assim, onde está os bilhões e bilhões de dinheiro do Orçamento Geral do Estado aprovado todos os anos? Até o momento, ninguém oferece uma clara resposta ou explicação detalhada sobre está pergunta. Parece que tudo é uma “piada política” na exaltação da “glória de sensação política”, aliás na língua malaia se diz, fazer a “pencintraan polítika, ou polítika pencintraan”. Não sei se isso que acontece no nosso querido país Timor-Leste, talvez sim, é isso que acontece mesmo agora como dizia um anjo do céu na sua glória que “todos querem ficar na frente da fileira”. Digamos claramente que os nossos heróis tombados fiquem tristes de ver o nosso Timor-Leste não se transforma ainda em desenvolvimento pleno, os nossos heróis tombados fiquem tristes de ver compatriotas da resistência contam só as histórias todos os dias, sem nenhum esforço para desenvolver o país.
Portanto, agora cabe a todos nós a refletir, para onde queremos levar esse nosso querido Timor-Leste, deixando ficar parado no tempo de agora ou mergulhado na “contação de histórias e de dinheito bilhões a bilhões” de alguns nossos políticos e líderes, ou lutamos com uma nova esperança “fiár-an lao ba oin” para fazer um Timor-Leste “furak liu” no futuro com uma nova dinâmica de “ita emar-boot sira-ne’e (ita polítiku no governante sira-ne’e) tenke hikis kosar hodi servisu maka’as ba ita-nia povu nia moris di’ak no nasaun nia furak”. Nesse sentido, peçamos aos nossos políticos e líderes (emar-boot sira) “labele hanoin de’itk gasta osan boot ba buat ne’ebé lá folin, maibé tenke liki duni kosar been hodi serví povu”. Para tal e para ter um trabalho coletivo seja fecundo, como dizia Nicolau Lobato (25 de Dezembro de 1974): “é preciso que haja cooperação e para haver cooperação torna-se necessário haver entendimento, união, unidade entre os membros cooperantes” (apud Gusmão, 2018, p.103).
Enfim, para desenvolver o país e libertar o povo, segundo Nicolau Lobato “é preciso que cada um se aperte primeiro de si mesmo. É preciso libertamo-nos dos nossos preconceitos, da nossa autossuficiência, da nossa sobracena do nosso comodismo, do nosso fraco sentido de responsabilidade” (Nicolau Lobato, 25 de Dezembro de 1974).
Referências
Fátima Guterres (2014), Timor: País Violentado – Memórias de um passado. Lisboa: Lidel.
Martinho G. Da Silva Gusmão (2018), Nicolau dos Reis Lobato – sabemos, e podemos, e devemos vencer. Malang: Penerbit Dioma.
Viva Timor-Leste, Viva dia dos heróis nacionais
Díli, 31 de Dezembro de 2022
Vicente Paulino