DÍLI, 15 de dezembro de 2022 (TATOLI) – Leónia Lemos tem 34 anos. Com 19, decidiu ir para Inglaterra, tal como outros jovens timorenses, à procura de uma vida melhor.
“Foi muito cedo que saí do país à procura de emprego. Vivi em Inglaterra com os meus tios com quem aprendi a trabalhar em fábricas e hotéis”, contou a jovem.
Leónia Lemos nasceu em Díli, no dia 21 de junho de 1988. É a segunda filha de Luís Lemos e de Maria Madalena. Tem cinco irmãos. No entanto, foi adotada, em criança, pelo seu tio António da Silva Xavier. Mora em Santa Cruz, Díli e é proprietária e dirigente da empresa local Mirtejes-F.
Graças à experiência adquirida em Inglaterra, sentiu vontade de contribuir para o seu país. “Mesmo que tenha estado vários anos no estrangeiro, não deixei de pensar no meu objetivo principal que era voltar para o meu país e ajudar a nossa sociedade, sobretudo as mulheres que não têm oportunidade de trabalhar e aprender”, disse Leónia.
Além de trabalhar, quando estava em Inglaterra, a empresária dedicou-se à sua formação académica. Aproveitou para frequentar várias ações de formações, incluindo nas áreas da saúde, da segurança alimentar, da mulher nos negócios e de liderança.
“No Reino Unido, é muito fácil conseguir o que se quer, como alimentos e outros bens de primeira necessidade. Mesmo assim, não me esqueci da minha terra natal. Por isso, aproveitei as oportunidades o melhor possível para poder contribuir para o meu país assim que regressasse”, contou a jovem.
A sua luta não parou na formação, ingressou na Universidade de Oxford, após dois anos de estadia naquele país. Em 2014, concluiu a licenciatura na área de Nutrição e Dietética.
O sonho de ser empresária motivou-a a vir para Timor-Leste para fazer uma pesquisa sobre os negócios no país. Os resultados mostraram que as áreas da saúde e agricultura precisam de uma intervenção.
Ressaltou que, na área da agricultura, por exemplo, apesar de Timor-Leste ter alimentos nutritivos, as pessoas desconhecem como os confecionar e variar a comida, o que, segundo Leónia, tem contribuído para o crescimento da taxa de mortalidade.
“Vivi em vários municípios com as comunidades de Timor-Leste. Descobri, durante o meu estudo, que a maioria dos timorenses adota uma dieta desequilibrada”, explicou.
Leónia, bastante motivada, voltou a trabalhar em Inglaterra para amealhar fundos que depois foram utilizados para investir na sua empresa Mertijes-F, criada em 2017.
Contou que os colegas foram os primeiros clientes de terapia física e de consultas nutritivas disponibilizadas pela Mertijes-F, para as pessoas que sofrem de diabetes, colesterol alto, acidentes vasculares cerebrais e problemas cardíacos. “Após as consultas, recomendo o consumo de fruta seca Dry fruit detox preparada pela nossa empresa”, disse.
Para a jovem empreendedora, “iniciar um negócio em Timor não é fácil, pois a sociedade timorense tem o preconceito de que as mulheres são só donas da casa”. Lamentou ainda que, em Timor-Leste, o Governo não incentive o setor privado, mesmo que haja pessoas que querem iniciar os seus negócios.
Em 2017, ano em que a Leónia Lemos deixou Inglaterra para se dedicar ao seu novo emprego, participou num concurso de negócios inovadores de produtos locais promovido pelo Instituto de Apoio ao Desenvolvimento Empresarial (IADE).
Mesmo que não tenha vencido o concurso, a coragem da jovem manteve-se, insistindo em promover o seu produto “varaidame Timor”, frutas secas e disponíveis para venda em vários municípios.
Em 2019, voltou a participar no concurso do IADE e, graças aos resultados das pesquisas e ao esforço, ficou em segundo lugar e a sua marca foi reconhecida oficialmente pelo Governo.
Além de nutricionista, Leónia Lemos trabalhou também no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) na área de capacitação dos jovens no setor de negócios.
A jovem conhecida pelo seu potencial, foi convidada, várias vezes, por organizações na área de gestão de negócio, para ser membro dos júris em concursos de empreendedorismo.
Em 2021, quando Timor-Leste foi afetado pelas inundações, a jovem suspendeu o seu negócio e organizou os seus amigos para ajudar as vítimas. “Viver como mulher em Timor-Leste é uma desgraça. A mulher sofre com as consequências da sociedade patriarcal em que o homem é o rei e o comandante da família. Isto não é normal. As mulheres têm capacidades para contribuir para o desenvolvimento”, argumenta Leónia.
Contou ainda que, quando decidiu voltar para Timor-Leste, alguns familiares discordaram da sua decisão, porque acreditam que trabalhar em Inglaterra é melhor, mas Leónia “bateu o pé” por saber que não queria trabalhar por conta de outrem, “cada pessoa tem a sua história. Timor-Leste existe também por causa do contributo das mulheres”.
Apesar das várias ofertas de trabalho provenientes de políticos e organizações não governamentais, a jovem insiste na sua decisão e está a preparar-se para expandir o seu negócio para outros municípios.
Equipa da Tatoli