DÍLI, 14 de dezembro de 2022 (TATOLI) – O tais rapin hirik da ilha de Ataúro apresenta uma singularidade: é o único tecido feito com folha de palma. E, pelo que se apurou, é o material exclusivamente usado no suco de Makadade.
A especificidade deste tecido tradicional de Makadade resulta da vontade de preservar, integralmente, o tipo de vestuário dos antepassados daqueles que o tecem. O tais rapin hirik tem um valor e uma história única para a população da ilha de Ataúro.
Segundo o ancião da ilha, Carlos da Costa Soares, ao longo do tempo os antepassados vestiam-se de materiais provenientes das cascas e folhas de árvores. Com o passar do tempo, surgiu ideia como usar a folha de palmeira como matéria-prima para a manufatura desta peça de vestuário.
O tais rapin hirik faz parte da identidade do povo de Ataúro e a população usa-o em atividades culturais, por exemplo eventos musicais e danças, e em eventos de cariz nacional. O rapin hirik vem do idioma da ilha, o raklungu. Neste dialeto, rapin significa tecido e hirik faz referência à palmeira.
Para preservar o tecido tradicional da ilha, em 2020, o grupo Rapin Hirik de Ataúro, constituído por 12 mulheres, começou a produzir o tais hirik feito, justamente, com a palmeira local. Deste modo, além de preservar este artefacto cultural como sinal da identidade da ilha, o grupo em apreço criou também alguns postos de trabalho para ajudar os rendimentos de algumas famílias.
“Conheci o uso do tais hirik quando era adolescente. Os nossos antepassados usavam o tais hirik até 1975. Durante o tempo de ocupação da Indonésia, o uso deste tecido tradicional passou ao esquecimento da população dado que se começou a utilizar vestes modernas feitas em fábricas”, contou o ancião da ilha, no Centro de Convenções de Díli.
O grupo Rapin Hirik está a trabalhar em cooperação com o da Boneca de Ataúro para produzir o tais hirik e diversificá-lo em acessórios, como, por exemplo, porta-moedas, sacos de diferentes dimensões, porta-chaves, entre outros.
“Vendemos o tais hirik com um preço que varia entre os 10 e os 150 dólares americanos”, afirmou um dos membros do grupo, Virgínia Soares.
Esta tecelã revelou ainda alguns pormenores sobre a manufatura do tais hirik. A matéria-prima, ainda verde, é retirada da palmeira. É lavada e secada durante, pelo menos, um dia. Depois é recortada em tiras e agrupada para ser tecida. Algumas destas tiras vão a lume para serem tingidas nas cores que se querem imprimir ao produto final. Finalmente, o processo de tecelagem é semelhante aos outros tais.
Virgínia Soares não tem dúvidas: “Gostamos de trabalhar e produzir o tais hirik, pois representa a nossa identidade, a nossa singularidade”.
Jornalista: Jesuína Xavier
Editora: Maria Auxiliadora