DÍLI, 09 de novembro de 2022 (TATOLI) – A timorense Havana Ingham-Freitas, 12 anos, ainda frequenta o sexto ano do ensino básico na escola internacional de Díli (DIS). Apesar da pouca idade, já se comove e se indigna com as arbitrariedades do mundo. Para exteriorizar essa preocupação, escreveu um livro.
Denominado Não há Qualidade sem Igualdade, a obra aborda situações de discriminação contra grupos minoritários, além de problemas relacionados com o trabalho infantil, a pobreza, a falta de acessibilidade das crianças com algum tipo de deficiência, entre outras questões.
O livro foi publicado no início deste mês e é composto por pequenas narrativas, como por exemplo, a história de Pedro (nome fictício). A personagem, que veio da montanha para a capital para vender ovos de modo a ajudar a família, sente na pele o peso de uma infância infeliz.
Havana conta que começou a escrever desde muito cedo e que fica sempre muito triste ao ouvir relatos de injustiças, que chegam ao seu conhecimento por intermédio dos pais ou de observações próprias – como nos casos das crianças que vendem produtos pelas ruas de Díli. Com a ajuda da mãe, Xylia Ingham, passou a escrever com mais frequência. O livro foi o resultado desse processo.
“Espero que os leitores possam refletir sobre as situações que escrevo”, disse a jovem autora.
Devido aos custos, a obra foi distribuída somente a alguns amigos mais próximos. “O valor para imprimir cada conjunto de seis exemplares foi quase 50 dólares americanos”, informou Tomás Freitas, pai da menina. O livro é bilíngue (tétum e inglês), colorido e tem 38 páginas.
Curiosidade que alimenta o gosto pela escrita
“Pai, que plantas são aquelas? Como se chamam? Como sobreviveram? Quantos anos têm?”, são algumas das perguntas que a menina costuma fazer ao pai sempre que viaja para outros municípios. Depois de satisfazer a curiosidade, Havana escreve sobre os assuntos que lhe despertam interesse para apresentá-los na sua turma da escola.

Em 2021, a pequena escritora escreveu uma curta história, ainda não terminada, sobre cidadãos da Síria e do Paquistão, que migraram para outros países por causa de conflitos. Esta terá sido uma semente que originou Não há Qualidade sem Igualdade.
A proatividade da Havana é uma peculiaridade alimentada pelos pais. A criança gosta de se manter informada sobre a realidade que a envolve e é estimulada a ler livros de ficção. A mãe acredita que oferecer esse tipo de literatura “aguça a imaginação e contribui para o desenvolvimento de um pensamento mais crítico e criativo sobre qualquer assunto”, destaca Xylia.
O nome da menina vem da capital de Cuba. O seu pai é um apaixonado pela história da Revolução Cubana e dos seus revolucionários, como Fidel Castro e Ernesto “Che” Guevara.
Na sua família, Havana é diferente dos outros três irmãos. A menina organiza sempre as próprias atividades diárias. No seu quarto, há um quadro pequeno para escrever toda a rotina, organizada por horários, incluindo as refeições. Às vezes, a menina desafia os seus próprios pais quando eles não cumprem algo já planeado. “Pai e mãe, não podem fazer assim, vocês devem cumprir as regras que estabelecemos. Vocês disseram uma atividade e fizeram outra!”, ralha a miúda.
Além de proativa, Havana é muito comunicativa. Estas duas qualidades fizeram com que lhe fosse confiada a função de representante do conselho de estudantes.
Apesar do interesse de Havana pela literatura, a jovem escritora também aprecia outras artes, como a pintura e o teatro. A paixão da menina pelos livros, contudo, parece ser insuperável. “Posso escrever uma história com a minha imaginação e posso mostrar as minhas obras dramáticas num palco”, referindo-se, por ora, ao palco da sala de aula.
Havana já tem qualidade. A igualdade é, para si, uma luta.
Equipa da Tatoli