DÍLI, 29 de agosto de 2024 (TATOLI) – O Arquivo Museu da Resistência Timorense (AMRT) tem patente uma exposição específica que mostra imagens, documentos e artefactos históricos específicos da história das mais de duas décadas que precederam a realização da Consulta Popular, referendo que criou a última condição jurídica para Timor-Leste se tornar uma nação soberana internacionalmente reconhecida.
O AMRT, na sequência das comemorações do dia da Consulta Popular, em 30 agosto de 1999, tem recebido visitantes ilustres de vários países, ultimamente de individualidades portuguesas como Durão Barroso, ex-primeiro-ministro e ex-presidente da Comissão Europeia, o atual Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres e, presumivelmente a curto prazo, a ex-embaixadora de Portugal na Indonésia, Ana Gomes. Foi justamente António Guterres que visitou ontem o AMRT, onde teve oportunidade de relembrar alguns acontecimentos aos quais esteve intimamente ligado naquele centro.
O Secretário-Geral da ONU afirmou que a independência de Timor-Leste foi possível devido “à pertinácia da resistência timorense” e que, apesar de Portugal “ser um país pequeno e com menor influência nos assuntos internacionais, empenhou-se totalmente na defesa do direito à autodeterminação do povo timorense”.
“Penso que a primeira e fundamental razão pela qual a independência de Timor-Leste tenha sido possível foi a pertinácia da resistência timorense. E isso tem de ser reconhecido. A resistência timorense não desistiu. «Resistir é vencer», disse Xanana Gusmão e Mário Soares e há outra frase, «só é vencido quem desiste de lutar»”, lembrou António Guterres.
No auditório da AMRT, António Guterres evocou o heroísmo timorense dizendo que este “não desistiu em nenhuma circunstância, não desistiu nas montanhas e não desistiu com Xanana na cadeia, mantendo sempre viva a determinação de lutar pela independência do país”. Lembrou ainda o papel positivo da Igreja Católica na defesa da identidade timorense e na vida de muitos guerrilheiros.
O ex-primeiro-ministro Portugal sublinhou ainda que houve outro fator que contribuiu para a independência de Timor-Leste. Para ele, na sequência de complexos processos na Indonésia, pressionado, o Presidente Suharto, abriu uma oportunidade de negociação internacional. “Foi uma janela de oportunidade aproveitada e que, sejamos claros, não podia existir se a resistência timorense não tivesse, durante décadas em que parecia que não haveria janela de oportunidade, se a resistência timorense não tivesse persistido”, considerou.
António Guterres concluiu, referindo que hoje existe uma democracia consolidada em Timor-Leste, relações diplomáticas muito positivas com Portugal e com a Indonésia, e que considera Timor-Leste como um símbolo de paz, um símbolo de harmonia e um exemplo muito positivo no mundo atual.
Jornalista: Afonso do Rosário
Editora: Isaura Lemos de Deus