DÍLI, 29 de outubro de 2023 (TATOLI) – A preservação de documentos audiovisuais sobre a luta e o sofrimento do povo timorense pela independência do país é essencial para constituir um legado histórico para as novas gerações. A ideia é do Diretor-Executivo do Centro Audiovisual Max Stahl Timor-Leste (CAMSTL), Eudicito Pinto, no âmbito da comemoração do Dia Mundial do Património Audiovisual, sob o tema A Tua Janela para o Mundo, que se celebra anualmente a 27 de outubro, numa tentativa de promover a consciencialização e importância da preservação de arquivos documentais audiovisuais.
Este tema permite a todos testemunhar, isto é, ver ou ouvir informações e acontecimentos do passado, bem como desenvolver narrativas informativas que funcionam como fonte de conhecimento e divertimento.
Segundo o dirigente, estão conservados no CAMSTL as imagens históricas do massacre do Cemitério de Santa Cruz, a 12 de novembro de 1991. As imagens da chacina, recolhidas pelo jornalista inglês Max Stahl, junto o assassinato dos ‘Cinco de Balibó’, acordaram o mundo para a realidade que se vivia em Timor-Leste desde a invasão do território pela Indonésia, ocorrida com a cumplicidade dos Estados Unidos da América em dezembro de 1975. Outros documentos audiovisuais produzidos por historiadores ou pela imprensa nacional e internacional também concorreram para aquela chamada de atenção.
Especificamente o documentário do massacre do Cemitério de Santa Cruz passou há 31 anos, fez as vozes daqueles que sussurravam dúvidas escondidas, de jovens desarmados perante as balas, de velhos, mulheres e crianças a subir às paredes a meio da noite, sacrificando-se para realizar um sonho baseado na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
“Felicitei todos os que comemoraram o Dia Mundial do Património do Audiovisual, especialmente aqueles com paciência e empenho na conservação de materiais importantes como os audiovisuais, como imagens vivas que servem de mensagem para as novas e futuras gerações. Temos a obrigação de os cuidar e preservar”, afirmou Eudicito, em Díli.
O dirigente destacou que se um individuo fizer uma entrevista ou um documentário, não é apenas para si próprio, mas serve também para as gerações futuras, para que se possa aceder e ter conhecimento sobre os acontecimentos importantes, uma vez que o audiovisual se torna o narrador da história.

Também o fotógrafo e o documentarista freelancer, Bernardino Soares, salientou que os audiovisuais são “intermediários e imagens que se tornam numa ponte para transmitir um problema ou a interpretação de outra pessoa”.
O fotógrafo apelou aos jornalistas e produtores audiovisuais timorenses para que não se debrucem apenas sobre a política, mas cubram também os domínios da agricultura, do interesse humano, do social, das artes, da cultura e estilos da vida dos timorenses.
“A digitalização e o desenvolvimento multimédia são importantes para a dinâmica de apoio ao registo e à preservação da história futura”, frisou.
Por sua vez, o Diretor-Executivo da Casa de Produção Audiovisual (CPA), Rui Muakandala, destacou a importância da preservação audiovisual num mundo em pleno desenvolvimento, pois não se trata apenas de ouvir e ler, mas também de visualizar imagens vivas.

O dirigente explicou que os documentários produzidos pelo CPA são uma plataforma destinada às pessoas marginalizadas para transmitir as suas aspirações sobretudo no domínio social.
Para Rui Muakandala, a missão do CPA é ser uma “voz para aqueles que não são ouvidos” na justiça social, para as pessoas marginalizadas que se encontram nas zonas rurais, para as mulheres jovens e para a preservação de línguas locais em vias de extinção.
“As pessoas das zonas rurais não têm acesso à água nem a boas infraestruturas rodoviárias e eletricidade, por esse motivo o CPA convida-as a falar sobre o que desejam e pede ao governo que preste atenção às suas preocupações”, concluiu.
Celebra-se anualmente a 27 de outubro, por decisão da UNESCO em 2005, o Dia Mundial do Património Audiovisual. A meta é consciencializar para a importância da preservação de documentos sonoros e audiovisuais gravados.
Jornalista: Afonso do Rosário
Editora: Isaura Lemos de Deus