DÍLI, 24 de outubro de 2023 (TATOLI) –A atualização do Índice Global da Fome (IGF) para 2023 revelou que a situação de fome em Timor-Leste continua a ser grave. O país está colocado na 112.ª posição de um ranking de 125 nações, com uma pontuação de 29,9, um nível considerado ‘sério’ de fome. Para tal, muito contribuiu o deficiente regime alimentar de crianças timorenses e subsequentes altos níveis de subnutrição. É de registar, todavia, que se registou um decréscimo dos valores tidos como preocupantes, sobretudo a partir de 2008, isto é, uma ligeira melhoria.
De acordo com o IGF, Timor-Leste, o pior do sudeste asiático, está ao lado de Afeganistão, o que apresenta um dos piores pior índice com situação de fome grave na região de Ásia. Para o levantamento de 2023, a Welthungerhilfe avaliou 125 países com base em quatro indicadores: a subnutrição, o raquitismo (crianças com baixo peso para a sua altura, o nanismo (crianças com baixa estatura), estas três em crianças com idade inferior a cinco anos e mortalidade infantil, esta última face à população total.
Cada país recebe uma pontuação numa escala de 0 a 100 pontos. Os dados indicam que Timor-Leste estava numa situação de fome face ao ano de 2022, com uma classificação de 30,6 pontos, resultado melhor face ao ano de 2012, em que tinha obtido 36,2 pontos e melhor ainda do que em 2006, ano em que registava 46,1 pontos. Assim, embora a situação seja considerada “séria” em 2023, tem-se notado uma evolução positiva desde o ano 2000, incluindo a situação específica do raquitismo, esta somente a partir de 2008, como se pode ver no gráfico abaixo.
Em relação à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Moçambique (30,5) tem valores próximos aos de Timor-Leste e a Guiné-Bissau um pouco pior (33).
Questionado sobre a baixa classificação de Timor-Leste, Maria Angelina Sarmento, deputada da bancada do Partido da Libertação Popular, pediu ao Governo que tomasse medidas sérias com a situação de fome em Timor-Leste. “Apelei ao Executivo que efetuasse um inquérito sobre o Índice de Segurança Alimentar no país”, afirmou. A deputada acrescentou que o Governo deve investir no setor agrícola de forma sustentável para que se proporcione uma maior produção que possa atenuar os efeitos da subnutrição a longo prazo e dê confiança aos agricultores para investirem no setor.
José Ramos Horta já se tinha posicionado aos dados do IGF de 2022 com algum ceticismo afirmando que “podiam ser verdadeiros ou falsos” mas, qualquer que fosse o caso, os dados deveriam ser “uma lição para Timor-Leste trabalhar de todas as formas possíveis para reduzir a taxa de desnutrição e fome no país”, acrescentando que Timor-Leste é um país jovem por comparação à maior parte dos países avaliados.
A qualidade alimentar (e subsequente subnutrição) tem, em Timor-Leste, uma instituição encarregada de monitorizar e sugerir políticas ao Executivo. Trata-se da Direção Nacional da Segurança Alimentar. O seu diretor, Rufino Gusmão, já adjudicou, em declarações passadas, o problema à pobreza. Ele acha que a maioria da população que enfrenta problemas alimentares vive com o salário mínimo de 115 dólares americanos e reside em zonas rurais e remotas. “Uma família com cinco filhos, com um rendimento mensal do chefe da família de 115 dólares americanos, como é que pode satisfazer as necessidades da família? O dinheiro que gastam em necessidades básicas é mais do que isso. Para ter alimentos nutritivos é preciso mais de 300 a 400 dólares. Esse é o fator principal que leva à fome e à subnutrição”.
Recorde-se que, segundo os dados da Pesquisa de Alimentação e Nutrição de 2020, até aos cinco anos (idade considerada pelas estatísticas internacionais), cerca de 47% das crianças sofriam de nanismo e 8,8% apresentavam um peso inferior ao considerado adequado por padrões de saúde internacionais, numa situação que, não configurando exatamente fome total, é, pelo menos, uma alarmante fome de nutrientes.
Notícia relevante: Índice Global da Fome classifica Timor-Leste em situação ‘grave’
Jornalistaː Domingos Piedade Freitas
Editoraː Isaura Lemos de Deus