DÍLI, 13 de outubro de 2023 (TATOLI) – Prevê-se que a economia Timor-Leste continue a recuperar, devido a um aumento da procura do consumo privado e a uma despesa pública mais eficaz. A médio prazo (2023 a 2025), as previsões apontam para um crescimento médio anual de 3,4%, refere o Relatório Económico divulgado pelo Banco Mundial.
A Tatoli procurou, via leitura deste documento, traçar o que o Banco Mundial entende caracterizar a situação atual, os cenários que perspetiva para médio/longo prazo e as recomendações finais.
A atualidade
Apesar desta recuperação, no documento refere-se que a taxa de inflação no preço dos combustíveis e lubrificantes ao consumidor final registou um declínio constante, o que deriva da descida dos preços médios globais do petróleo.
O Banco mundial nota que as transferências públicas aumentaram significativamente, passando de 21,8% do PIB antes da pandemia para 55,3% em 2022. Além disso, o défice orçamental continuou a aumentar e atingiu 63,7% no mesmo ano, um dos mais elevados do mundo, muito superior à média pré-pandémica de 36,3%.
Dado o peso significativo dos alimentos, bebidas alcoólicas e tabaco no cabaz de consumo de Timor-Leste, espera-se que estes fatores continuem a impulsionar os preços domésticos. Como resultado, o Banco Mundial prevê-se que “a inflação dos preços no consumidor (IPC, em inglês) ronde 5,5 % em 2023, antes de recuar para 3,1% entre 2024 e 2025”.
Cenários pessimistas a médio/longo prazo
O relatório económico do Banco Mundial afirma que “o IX Governo Constitucional enfrenta a imensa tarefa de apresentar resultados numa série de setores críticos. Entre outras responsabilidades, a administração deve concentrar-se na execução do roteiro de adesão à ASEAN, respondendo às exigências contínuas de diversificação económica e abordando a necessidade urgente de melhorar os resultados do desenvolvimento humano. A eficácia do governo dependerá em grande medida da sua capacidade de utilizar eficazmente os seus limitados recursos orçamentais e humanos”.
O tom das características do cenário que aponta a Timor-Leste e à sua economia denota um panorama negativo. Embora aponte que prevê que a economia continue a recuperar graças a um aumento da procura do consumo privado e a uma despesa pública mais eficaz, enquadra Timor-Leste como região a sofrer os efeitos de um quadro geoeconómico maior.
Aponta então, como fatores negativos, que, embora os preços mundiais dos produtos alimentares tenham diminuído gradualmente desde a invasão russa à Ucrânia, “prevê-se que continuem a ser mais elevados do que os níveis anteriores à guerra e que persistam em níveis elevados a nível mundial”, auspicia que, dado o fim da produção de petróleo, o saldo do Fundo Petrolífero esgotar-se-á mais rapidamente e prevê-se que esteja totalmente esgotado até 2034 e que esta última circunstância constitui “uma ameaça à estabilidade macroeconómica e à continuação da utilização do dólar americano como moeda legal”.
Conclui, então, que “os riscos são significativos e estão inclinados para o lado negativo. Estes incluem a instabilidade política, a inversão das reformas, as catástrofes naturais e a persistência de uma inflação elevada”.
Recomendações: alto ênfase na agricultura
A instituição financeira defende o aumento do investimento no sector agrícola, que emprega quase 38% da força de trabalho, de forma a “estimular o desenvolvimento rural e aliviar a pobreza”. No entanto, a instituição alerta para a necessidade de prudência devido às perspetivas desfavoráveis associadas à previsão climática do El Niño, que prevê uma diminuição da precipitação na próxima época.
O relatório económico do Banco Mundial termina com recomendações: o desenvolvimento do setor da agricultura para garantir a segurança alimentar, aumentar o rendimento dos agricultores e da agricultura de pequena escala para, em última instância, contribuir para a resiliência económica. Aconselha, como efeito do anterior, reduzir o crescente desfasamento entre a procura e a oferta interna em categorias alimentares fundamentais para criar autossuficiência alimentar e fazer o país depender menos da importação de bens de consumo alimentar.
Recomenda também passar de uma cultura de cereais para produtos de base de elevado valor e exemplifica com produtos proteicos (provindos da pecuária) e altamente vitaminados como vegetais e frutos. Ainda na agricultura, enfatiza uma maior qualidade dos produtos, envolvendo sementes selecionadas, fertilizantes de qualidade, uma melhor capacidade de armazenamento, tudo para uma melhor produtividade. Finalmente recomenda apoiar o desenvolvimento da transformação de produtos alimentares, especialmente através de investimentos em pequenas e médias empresas, sempre que possível.
Em conclusão, o relatório aconselha, em síntese, “produzir mais e melhor”.
Jornalista: Afonso do Rosário
Editora: Isaura Lemos de Deus