DÍLI, 26 de agosto de 2023 (TATOLI) – Domingas Soares, 55 anos, começou a aprender técnicas de tecelagem quando tinha 16 anos, em 1975. Teceu tais para ser usado como vestuário a fim de sobreviver na montanha durante a situação difícil daquela época. Após ter sido presa pelos militares indonésios, a tecelã, proveniente do posto administrativo de Laclubar, do município de Manatuto, suspendeu a atividade, recomeçando-a quando o país restaurou a sua independência.
“O tais é o nosso património cultural. Não podemos abandonar a herança dos nossos antepassados, pois foi transmitida pela nossa geração. Continuamos a promovê-lo. O tais é uma inevitabilidade cultural”, informou à Tatoli, à margem da abertura da Exposição Gráfica Património Cultural Imaterial, Tais Timor 2023, promovida pela Secretaria de Estado das Artes e Cultura (SEAC), em Díli.
Em entrevista, Domingas Soares mostrou-se preocupada com a dificuldade em produzir os tais devido à falta de algodão, uma vez que a maioria dos tecelões utiliza atualmente algodão moderno ou contemporâneo para os produzir.
Antigamente, segundo a tecelã, o algodão era a matéria-prima essencial para a produção do tais. Era muito abundante. Atualmente a situação é diferente, porque há poucas plantações. “Para satisfazer as necessidades das tecelãs, compramos o produto numa loja chinesa, mas se houver uma organização privada ou estatal que forneça as sementes, nós disponibilizaremos um terreno para plantá-las,”, afirmou a tecelã.
Recorde-se que as Organizações Não-Governamentais Timor Aid e Fundação Alola tinham pedido a várias autoridades municipais para disponibilizarem terrenos de modo a cultivar algodão. As organizações já identificaram um hectare de terreno em cada um dos municípios de Baucau, Bobonaro, Covalima, Lautém, Viqueque e na Região Administrativo Especial de Oé-Cusse Ambeno.

O Primeiro-Ministro, Xanana Gusmão, que esteve presente no evento, destacou a importância desta iniciativa, uma vez que a sua principal mais-valia futura é incutir na mente das novas gerações a consciência de continuar a preservar e continuar a apreciar e amar as origens culturais do país.
“Queremos aproveitar o que ganhamos com a independência, mas não nos podemos esquecer das nossas raízes e origens. Precisamos de preservar a nossa originalidade, porque nos carateriza uma diversidade étnica e uma diversidade cultural. Felicito todos os que participaram nesta iniciativa, agradeço à UNESCO, à Fundação Alola, e à Timor Aid por ajudarem a promover as tradições do nosso país”, afirmou Xanana Gusmão. Acrescentou que o Governo continuará a apoiar os grupos artísticos timorenses a participarem em diversos eventos para promover a identidade cultural do país.
O Secretário da tutela, Jorge Cristóvão, por sua vez, afirmou que esta exposição visa preservar artefactos culturais do país, uma vez que eles possuem potencialidade artística e autenticidade histórica, transmitidas pelos antepassados.
O governante considera que é importante desenvolver esta iniciativa, pois o mundo está atualmente sob a influência da globalização e o tais é um dos produtos ameaçados pela falsificação deturpadora da autenticidade e originalidade devido à livre concorrência desregulada. Jorge Cristóvão especificou: “Para enfrentar este desafio, temos de ter uma arma para proteger as tecelãs e o seu trabalho artístico, bem como valorizar a sua criatividade e ideias originais na produção de tais que representam especificidades das nossas identidades regionais”, sublinhou.
O titular do cargo espera, finalmente, que esta exposição encoraje os timorenses a preservar, proteger e promover o património cultural, especialmente o tais.
A Exposição Gráfica é uma feira permanente que decorre três dias por semana, quarta, sexta e sábado, em torno do edifício da SEAC, na Praia dos Coqueiros. O evento pretende ser um catalisador para que o público pesquise, promova e salvaguarde o património cultural transmitido pelos antepassados. A este propósito, recorde-se que a UNESCO já tinha reconhecido, a 14 de dezembro de 2021, o tecido tradicional, o tais, como património cultural imaterial em necessidade de salvaguarda urgente.
Jornalista: Afonso do Rosário
Editora: Maria Auxiliadora