DÍLI, 27 de junho de 2023 (TATOLI) – O povo timorense tem sentido o impacto que a inflação dos bens de primeira necessidade tem causado no seu dia-a-dia, mês após mês. Pede-se ao novo Governo que tenha uma ação direta para ajudar as pessoas. De facto, dados de maio de 2023 comparados com o mês homólogo de 2022 apontam para um valor que ronda os 7%.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística de Timor-Leste (INETL), em maio, a inflação subiu para 0,9% no Índice de Preços ao Consumidor (IPC), em comparação com o mês anterior, que tinha sido de 0,5%. A inflação foi provocada, sobretudo por uma subida de preços nos produtos alimentares, nas bebidas não alcoólicas e no álcool e no tabaco.
Os preços dos produtos alimentares e bebidas não alcoólicas aumentaram devido a um crescimento de 0,2% no preço do arroz, 1,5% no do açúcar, compotas, chocolate, mel e doces, 1% nos produtos hortícolas, e 0,6% na carne e igual valor no leite, queijo e ovos.
O IPC revelou que houve um aumento de 7,1% em maio de 2023, em comparação com o mesmo período de 2022. Este aumento foi causado por aumentos de preços em grupos de alimentação diversa e nos de bebidas não alcoólicas (7,7%), transportes (6,3%), álcool e tabaco (34,9%), habitação (0,4%), educação (7,0%), comunicações (0,8%) e vestuário e calçado (1,6%).
Fora da frieza dos números, a Tatoli quis ouvir a voz do povo a respeito do impacto sentido no aumento continuado de preços, especialmente no dos bens e serviços de primeira necessidade.
Carlos Martins, estudante da Universidade Nacional Timor Lorosa’e, lamenta que a inflação dos bens de primeira necessidade esteja a tornar a vida muito difícil para os estudantes que vivem em Díli, especialmente os que vivem em alojamentos arrendados. “Quando o meu dinheiro se esgota, tenho de pedir aos meus pais, que vivem nas montanhas, que me deem dinheiro para comprar arroz, óleo, supermi e masako“.
Carlos acrescentou que queria comprar outros produtos, como legumes e frango, mas tem de gerir o dinheiro para aguentar mais quatro ou cinco meses de despesas. Porque os pais só lhe dão entre 30 ou 40 dólares. “A maior parte do tempo só como arroz com supermi, mas quando tenho muita fome tenho de misturar masako e óleo com o arroz”.
Quando o dinheiro acaba, Carlos tem de recorrer aos amigos, pedindo dinheiro, circunstância que geralmente consegue.
O estudante também criticou os motoristas das microletes por terem aumentado a tarifa para 25 centavos, já que antes era apenas de 15 para os estudantes.

A este respeito ouvimos um motorista de microletes. João Brito disse que aumentou as tarifas de viagens porque os custos de manutenção do veículo tinham subido. “Sobre este aumento ninguém falou. Mas quando os motoristas aumentaram a tarifa para 20 ou 25 centavos, toda a gente acordou e criticou. Vou dar um exemplo: em março e abril, o óleo para o carro custava 12 dólares americanos. Agora está a 14.5 ou 15 e alguns, de alta qualidade já custam 20 a 22 dólares”, afirmou João de Brito. O motorista pediu ao novo governo que reduzisse os custos de manutenção de modo a não prejudicar o seu trabalho diário como motorista.

Augusto Soares e Manuel Soares são dois dos vendedores que também sentiram o impacto da inflação. Disseram que costumavam produzir café, mas como o preço do café baixou consideravelmente (1 quilo a 45 cêntimos) para os produtores, decidiram dedicar-se à venda de legumes ambulante em Díli.
Augusto Soares denunciou que o preço do arroz pago ao produtor em Timor-Leste não espelha os números oficiais da inflação. Ele nota um grande desfasamento entre “o preço do café [ao consumidor] e o rendimento que os produtores conseguem”.

Julieta da Silva, que tem seis filhos e é comerciante em Baucau, diz que é inaceitável que o preço dos bens de primeira necessidade aumente todos os meses e prejudique aqueles que não têm possibilidade de os comprar. “Para os governantes que têm um salário máximo, não há dificuldades. Para nós isto é muito difícil”.
Julieta aconselha o novo governo a baixar os preços dos bens de primeira necessidade. “Porque as pessoas não estão a exigir muito, só queremos que o preço dos bens de primeira necessidade baixe”.
Equipa da TATOLI