DÍLI, 16 de maio de 2023 (TATOLI) – Pessoa cheia de energia, Joaninha Pereira, 23 anos, tem o dom de aprender idiomas sem, necessariamente, explorar a gramática ou estudar fora. A principal metodologia da jovem é escutar, associar as expressões a situações do dia a dia e treinar a pronúncia. Para isso, passa horas no quarto a assistir filmes e escutar músicas. Além do tétum, fala inglês, coreano, japonês, malaio, mandarim, português e até um dialeto local da china.
“Não aprendi línguas em salas de aula, por isso defendo que não é preciso saber as formas gramaticais para aprender um idioma”, diz Joaninha.
A jovem poliglota contou que nunca viveu fora do país, apenas passou um mês na China – onde aprendeu o dialeto local. O contacto com idiomas começou pelo português e pelo inglês. Depois, passou para o mandarim, o coreano e o japonês.
Natural de Díli, Joaninha começou os estudos com três anos no ensino pré-escolar, no Colégio de São Miguel de Arcanjo, unidade de ensino privada, onde também frequentou os 1.º e 2.º ciclos. Depois, continuou o 3.º ciclo na Escola 30 de Agosto e o ensino secundário na Escola Técnico-Vocacional, em Becora – ambas escolas públicas.
A menina é uma das jovens que luta contra o preconceito de uma suposta falta de qualidade das escolas públicas em Timor-Leste. Ela acha que o valor do ensino privado está desvirtuado em relação a uma alegada maior excelência.
“Quando terminei os meus estudos no segundo ciclo, no Colégio de São Miguel, não queria que a minha família se preocupasse com as propinas, por isso, decidi continuar em escolas públicas gratuitas”, contou a jovem.
Quando questionada sobre a pessoa que mais impacto teve na sua educação, a menina contou que foi o pai. “O meu pai costumava dizer que o domínio de uma língua é a chave para ter bons empregos na vida. Por isso, comprou-me gramáticas de língua mandarim para eu aprender sozinha em casa”.
Joaninha Pereira acha que a maior parte das crianças timorenses nas áreas rurais apenas se expressam em línguas estrangeiras quando se envolvem em voluntariado ou quando estudam em escolas internacionais.
“O direito a uma educação de qualidade inclui ter uma escola onde os alunos possam aprender em segurança e sem discriminação ou preconceito. É um direito fundamental que o Governo deve implementar em escolas públicas e privadas para que ninguém se sinta excluído”, defendeu Joaninha, que está a estudar na Faculdade de Direito da Universidade da Paz, desde 2021.
Portas abertas pelas línguas estrangeiras
Com 16 anos, a menina começou a trabalhar como freelancer na empresa RMS Engenharia e Construção – Timor-Leste como tradutora de língua inglesa. Contou que a família ficou surpreendida com o seu novo emprego porque não sabiam da competência da jovem em inglês. “A minha família ficou sem palavras: ‘Como é possível uma criança de 16 anos ser selecionada para uma vaga numa empresa internacional? Nós nunca a tínhamos ouvido falar inglês em casa e na escola!’”.
Além da família, os seus colegas também se surpreenderam com a paixão dela por idiomas. Com uma cara sorridente e bem-humorada, disse que “atualmente, já não basta falar uma só língua estrangeira. O próprio modo de vida exige que sejamos poliglotas, capazes de nos exprimirmos em várias línguas”.
Em 2018, a jovem foi selecionada pela Agência de Cooperação Internacional da Coreia (KOICA, em inglês) como tradutora freelancer e, ao mesmo tempo, tutora de língua tétum dos coreanos em Timor-Leste. Após oito meses, a jovem deixou o trabalho na KOICA e foi trabalhar como tradutora na Chinese Merchant Union Association.
Depois de várias experiências de trabalho em organizações e com pessoas diferentes, a jovem decidiu deixar o emprego. Desenvolveu uma paixão pelo voluntariado. “Deixei o meu emprego porque ainda era muito jovem e queria aprender também em organizações de voluntariado para ter novas experiências”, contou.
Em 2020, Joaninha foi selecionada como coordenadora-geral no centro de formação em língua inglesa Uma Amérika. No mesmo ano, também trabalhou como tutora de língua coreana na Fundação Mahon ba Desenvolvimento ba Foinsa’e, num curso que visava capacitar os jovens timorenses, futuros trabalhadores na Coreia do Sul.
Sobre desafios, Joaninha contou que o maior foi trabalhar com estrangeiros jovens sem experiência de trabalho. “Eu era uma pessoa introvertida e sem experiência, o que me dificultou a interagir com pessoas diferentes”. Apesar das dificuldades, a jovem assegurou que todo o esforço e dedicação de várias horas no quarto para aprender idiomas através da música e de filmes foi recompensado com as experiências profissionais que teve até então – e que ainda estão por vir.
Presentemente, Joaninha Pereira está a trabalhar como tutora intensiva de língua inglesa na QSI International School of Dili, uma escola destinada a crianças estrangeiras que vieram para Timor-Leste, normalmente num período que depende da estadia dos pais no país.
Considerando que a progressão na educação formal é fundamental em Timor-Leste, a jovem, que sonha em ser advogada e empresária, incentiva todos a estudar, para que se qualifiquem ao máximo. “E que tentem aprender idiomas”, destaca.
Na sua mensagem, Joaninha disse “cada um tem de seguir o seu coração e nunca olhar para trás”.
Equipa da TATOLI