DÍLI, 23 de março de 2023 (TATOLI) – Em Díli, entre segunda e sexta-feira muitas pessoas usam as microletes para se deslocarem para a escola ou para o local de trabalho. Todavia, como se verificou, a quantidade desses transportes não é suficiente para atender o número de passageiros, o que causa grandes atrasos na chegada aos destinos.
Cidadãos, por exemplo, que precisam de ir de Comoro para Balide e vice-versa, lamentam ter de esperar pela microlete 09, em muitos casos, mais de duas horas – ou têm de se conformar em espremerem-se em veículos sobrelotados. No caso de estudantes, são constantes as faltas em determinadas disciplinas, pois, com mais de 15 minutos de atraso, alguns professores não permitem mais a entrada na sala de aula.
Académico de enfermagem, Januário da Silva, da Universidade Nacional Timor Lorosa’e (UNTL), disse que costuma esperar pelo transporte em Bebonuk, onde vive, para seguir para Lahane, onde tem aulas. “Precisamos de ter muita paciência para esperar duas horas pela microlete”.
Já Flora Ximenes, estudante do Departamento da Parteira da UNTL, testemunhou que, quando a microlete está sobrelotada, por vezes o motorista para o veículo e pede aos passageiros que ofereçam as suas pernas para acomodar aqueles que entram. Mas isto, especifica Flora, “só é válido para mulheres. Os homens sentam-se na porta da microlete”.
Um motorista de microlete 09 que preferiu não ser identificado revelou que, quando vê os estudantes do [Instituto] Cristal e da [escola] 4 de setembro, pede aos passageiros para “oferecerem as suas pernas para os outros se sentarem, porque o destino deles é Balide, muito longe”.
Um outro motorista que não quis também revelar a sua identidade contou que, quando chega a Comoro, não precisa de parar por muito tempo, porque em dois minutos o veículo fica sobrelotado. Esta circunstância foi confirmada pela equipa da Tatoli, às sete e trinta da noite de uma sexta-feira.
Devido aos problemas, os passageiros reivindicam um aumento na quantidade de microletes 09 em circulação.
O Diretor Nacional de Transportes Terrestres (DNTT), António da Costa, por sua vez, sublinhou que aumentar o número de microletes 09 não é fácil. Segundo o Diretor, isso iria resultar em muitas reclamações dos motoristas e proprietários das microletes já em circulação.
“Por exemplo, só para mudar a direção da microlete 11 para Gólgota, houve muitas reações críticas por condutores, por isso, aumentar o número de microletes 09 poderia ser pior”, admitiu.
Nas ruas de Díli, observamos que cada microlete 09 muitas vezes transporta mais de 20 pessoas: na porta quatro pessoas, ao lado de condutor duas e lá dentro 15. Mas o condutor da microlete 04, João Brito, fez questão de salientar que “uma microlete só pode transportar um máximo de 12 passageiros”, sendo dois na porta.
Problemas com as tarifas
Flora Ximenes afirmou que, muitas vezes, na hora de regressar a casa, é obrigada a esperar pela microlete 09, porque as outras, no caso da 03 e da 10, não param, pelo fato de ela ser estudante e ter o direito de pagar menos. “Queria esperar noutro lugar para apanhar as microletes 03 e 10, mas cada vez mais os motoristas não querem parar, porque nós, estudantes, só pagamos 15 centavos”, desabafou.
Desde novembro do ano passado, a DNTT tabelou que o preço das viagens para as microletes é de 15 centavos para estudantes e de 25 para os demais passageiros.
A universitária disse que percebe a expressão de descontentamento no rosto dos motoristas no momento de pagar e revelou que, muitas vezes, não recebe o troco que deveria receber.
Questionado sobre a situação, o Diretor da DNTT reforçou que “o tarifário é claro desde novembro do ano passado, quando se publicaram os preços das viagens dos transportes públicos”.
“Até à data não recebemos nenhuma queixa, mas se alguém se sentir vítima, por favor venha fazer uma denúncia para que possamos passar multa, se for o caso. Precisamos de reclamações formais, não podemos julgar os condutores através dos media”, realçou António.
O Diretor da DNTT informou que o número total de microletes 09 é de 51 e todos os veículos estão ativos. Em Díli, 852 microletes circulam no total.
“Preciso de acelerar para agarrar as pessoas, senão, não vou ter passageiros”
De acordo com o que a equipa da Tatoli pôde constatar durante a investigação, muitas vezes os condutores da microlete 09 aceleram para agarrar mais passageiros, mesmo que o veículo já esteja cheio. Existe uma competição velada entre os motoristas para serem os primeiros a chegar a uma determinada paragem. A situação pode ser percebida nos percursos que passam pela Avenida de Portugal, Balide, Caicoli, Farol e Madohi.
Januário da Costa confirmou esta prática. “Muitos motoristas, ao se aproximarem dos pontos de paragem, aceleram, na tentativa de antecipar a chegada ao local. É muito desconfortável e arriscado para nós, que estamos no veículo”, lamentou.
Com medo, alguns passageiros gritam e pedem para sair da microlete, para apanhar uma próxima – não raramente também sobrelotada.
“Quando há mais de duas microletes perto de mim, preciso de acelerar para agarrar as pessoas, senão, não vou ter passageiros”, admitiu um condutor, que pediu para não ser identificado.
O Comandante de Trânsito de Díli, Domingos Gama, explicou que a velocidade máxima permitida para as microletes é de 40km/h, ou seja, “todos os que excederem este limite, estão a cometer infração. Pedimos que, havendo problemas, sejam feitas queixas à DNTT”, concluiu.
Equipa da TATOLI