DÍLI, 10 de dezembro de 2021 (TATOLI) – O escritor do romance “O Plantador de Abóboras”, Luís Cardoso, dedicou o Prémio Oceanos 2021 a todos os timorenses.
Luís Cardoso foi o primeiro timorense a vencer este prémio literário de língua portuguesa. O seu romance, “O Plantador de Abóboras”, foi publicado em Portugal pela editora Abysmo.
“Para mim, é uma alegria enorme, como cidadão timorense, ganhar este prémio. Sou escritor, a minha contribuição é através da escrita. No meu livro, conto a história do nosso país. Assim, como timorense, quero dedicar esta vitória a todo o povo de Timor-Leste”, realçou Luís Cardoso, à Tatoli, via Messenger.
Luís Cardoso explicou ainda que o romance narra três guerras sucessivas.
“O livro conta a história de Timor-Leste, sobretudo das guerras. É constituído por três momentos. O primeiro conta a guerra de Manufahi por Dom Boaventura, o segundo fala sobre o período da ocupação japonesa durante a segunda guerra mundial e o último descreve a ocupação da Indonésia”, contou.
O escritor timorense defende que é preciso desenvolver a literatura em Timor-Leste, pois o país tem uma história longa e diversificada.
“Somos timorenses, temos o dever patriótico de registar em livro a história do país e da nossa vida, pois temos a liberdade de escolher o tema sobre o qual queremos escrever. Peço a todos os jovens timorenses que sejam patrióticos de modo a fundar e desenvolver a literatura, para que no futuro seja divulgada no exterior”, frisou.
O autor salientou que não esperava receber o prémio, já que, como escritor, a sua única obrigação é escrever.
“Este prémio depende da pontuação atribuída pelos juízes. Como escritor, tenho obrigação de escrever histórias”, salientou.
Luís Cardoso esclareceu que as abóboras mencionadas no título e no romance funcionam como uma metáfora sobre Timor-Leste que ainda se apoia na exploração do petróleo, mas precisa de voltar a produzir e a plantar para alcançar uma riqueza alternativa e sustentável.
“O nosso país é rico em recursos minerais. As abóboras ilustram a fertilidade da nossa terra. Devemos plantar para nos alimentarmos e reduzirmos a dependência dos recursos minerais”, defendeu.
Por último, Luís Cardoso pediu a todos os jovens timorenses que escrevessem as suas histórias de vida em cartas e continuassem a lutar para se tornarem bons escritores no futuro.
“Continuem a praticar a escrita e a ser determinados. Para ser escritor, é preciso ter hábitos de leitura”, concluiu.
Luís Cardoso nasceu em Cailaco, no Município de Bobonaro, uma vila no interior do país, diversas vezes referenciada nos seus romances.
É filho de um enfermeiro que prestou serviço em várias localidades em Timor-Leste, razão pela qual conhece e fala diferentes idiomas timorenses. Estudou nos colégios missionários de Soibada e de Fuiloro, posteriormente, no seminário dos jesuítas em Dare e no Liceu Dr. Francisco Machado em Díli.
Licenciou-se em Silvicultura pelo Instituto Superior de Agronomia de Lisboa. Desempenhou funções de Representante do Conselho Nacional da Resistência Maubere em Portugal. É autor de vários romances: Crónica de Uma Travessia (1997), Olhos de Coruja, Olhos de Gato Bravo (2002), A Última Morte do Coronel Santiago (2003), Requiem para o Navegador Solitário (2007), O ano em que Pigafetta completou a circum-navegação (2013), Para onde vão os gatos quando morrem? (2017) e O Plantador de Abóboras (2021).
Jornalista: Afonso do Rosário
Editora: Maria Auxiliadora