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Luta de um artesão por um futuro melhor

Luta de um artesão por um futuro melhor

Foto TATOLI : Domingos Piedade

DÍLI, 20 de maio de 2020 (TATOLI) – A criatividade pode, às vezes, ajudar e até mudar vidas, desde que a pessoa tenha paixão e determinação para fazer dela um trabalho interessante para os outros, tornando-a, assim, num meio de subsistência para a família.

Nesta celebração do 18.º aniversário da Restauração da Independência de Timor-Leste, a Tatoli dá-lhe a conhecer um exemplo de um artesão, entre muitos outros, que procuram superar as dificuldades do dia a dia.

Apresentamos-lhe Carlos Borges de 77 anos, vindo do Remexio, em Aileu, que vive em Díli com a sua esposa. Tem seis filhos e dois netos. É artesão desde a ocupação indonésia e a sua matéria-prima são pneus de automóveis que recicla, transformando em bacias.

Carlos Borges diz à Tatoli que está satisfeito com o seu trabalho. Embora passe por alguns tempos de desespero, nunca perdeu a determinação. A família e o futuro dos seus filhos são as razões que o levam a não desistir deste trabalho. É também graças a ele que os seus filhos podem estudar.

Procura os pneus não usados de bicicletas, automóveis ou camiões. Encontra-os normalmente numa oficina, em Becora, mas pode também ter de procurar por Fatuhada e Audian.

De manhã, procura a matéria-prima. À tarde e à noite, dedica-se à produção das bacias.

“Posso juntar duas ou três rodas por dia. Tudo depende da minha sorte. Às vezes, só uma, mas, para mim, isto não é um problema”, conta.

Martelo, pregos, uma faca e pneus que já ninguém quer permitem-lhe produzir até duas bacias por dia e com cada uma pode ganhar entre 10 e 15 dólares.

“Quero continuar a fazer este trabalho. Fui inspirado por um militar indonésio, que me dizia que não podia depender unicamente do meu emprego. Eu era empregado da Suzuki, em Lecidere, e ele ensinou-me a transformar pneus usados em algo com valor”, recorda.

O artesão diz ainda que não quer depender do Governo, mas recorda que é preciso dar prioridade ao desenvolvimento de setores essenciais, como a agricultura, o turismo ou os pequenos negócios, uma forma de retirar muitas pessoas da pobreza.

“Apesar disso, enquanto cidadão, agradeço e gosto muito do meu trabalho, que me permite sustentar a minha família. O futuro dos meus filhos está nas mãos dos seus pais”, defende.

Carlos conta, por isso, com orgulho que, com estes rendimentos, conseguiu pôr os filhos mais velhos a estudar.

“Com esse trabalho, conseguimos ajudar os meus filhos a acabar o ensino secundário. E o meu filho Melqui Barros, o terceiro dos seis, conseguiu um trabalho na Coreia do Sul, apoiando, assim, a família e os estudos dos seus irmãos”, conta.

Mas Carlos não quer ficar sempre a trabalhar com pneus que já ninguém usa. Diz-nos que gostava de abrir uma empresa oficial de venda de pneus, assim que o seu terceiro filho regressar da Coreia do Sul.

“Quando o meu filho voltar da Coreia do Sul, quero abrir uma pequena empresa de pneus em Becora. Vou pedir também apoio do Governo”, diz, sem esconder a esperança.

Mas Carlos deixa os seus sonhos e volta a pensar naqueles que precisam mais do que ele. Quer que o Governo tenha “pena da miséria do seu povo” e lembra aqueles que não têm acesso a educação e a emprego.

“Peço aos governantes, no âmbito desta comemoração do 18.º aniversário da Restauração da Independência de Timor-Leste, que cooperem e ponham fim ao impasse político que o país já vive há mais de dois anos”, apela.

Para Carlos, os partidos políticos “não querem acelerar o desenvolvimento e, por isso, continuamos neste impasse político”.

Carlos é um exemplo de vários artesões timorenses que tem como meio de sustento a sua criatividade. Num país onde as oportunidades ainda são poucas, não cruza os braços em nome de um futuro melhor, para si e para os seus filhos.

Jornalista : Domingos Piedade Freitas

Editor : Zezito Silva

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