DÍLI, 09 de outubro de 2023 (TATOLI) – Colocamo-nos na pele de um turista ou casal de turistas que considera a possibilidade de viajar e passar uma temporada em Timor-Leste. Turista ou turistas que não considerem as hipóteses comerciais mais comummente aceites e publicitadas como Bali, Kuala Lumpur ou as Ilhas Maldivas, por exemplo, bagpackers (turistas de mochila) que, geralmente, procuram preços mais módicos no tocante a viagens e a locais onde pernoitar.
Numa pesquisa online, limitamo-nos a informações dos últimos 365 dias (função possibilitada pelo Google) na senda de obter a mais atual. Informações sobre voos e hotéis encontram-se abundantemente em sites, mas outras que dizem respeito à estadia turística em Timor-Leste não tanto e amiúde pintam uma imagem muito específica sobre o país.
A internet, naturalmente servindo propósitos comerciais, pinta uma imagem de um país exótico, abundante de paisagens naturais não estragadas por demasiada edificação turística, de praias idílicas, de uma costa submarina proveitosa biologicamente, de um povo simpático e sorridente e de uma etnografia ainda não maculada pela modernidade do mundo ocidental. Sobre o turismo em Timor-Leste, encontramos slogans turísticos como:
– “um belo e novo destino de viagem que oferece uma beleza natural incrível, uma história rica e uma experiência cultural única. Relaxe nas praias deslumbrantes, deixe-se impressionar pelos recifes tropicais e testemunhe a incrível vida marinha, e explore o interior”;
– “é um lugar de beleza natural deslumbrante, com praias imaculadas, montanhas imponentes e selva exuberante. As pessoas são incrivelmente simpáticas e acolhedoras, e há um rico património cultural para explorar. Quer esteja à procura de aventura ou simplesmente queira relaxar, Timor-Leste é o destino perfeito”;
– um dos melhores locais para observar baleias e golfinhos, uma vez que se situa no Triângulo dos Corais. Graças às suas águas repletas de espécies, o país é frequentado por estes mamíferos marinhos”;
– “é o lar de algumas das águas com maior biodiversidade do mundo. As águas de Timor-Leste possuem cerca de 600 corais construtores de recifes, mais de 2000 espécies de peixes de recife e seis das sete espécies de tartarugas marinhas do mundo”;
– “a costa norte é rica em atrações culturais e históricas. A ilha de Ataúro é famosa pelos seus locais de mergulho. A descontraída Costa Sul estende-se ao longo do continente, com plantações de café, caminhadas e belas paisagens em cada esquina”;
As potencialidades turísticas
Baseando-nos no último slogan, muitos dos textos a tecer loas ao Timor-Leste turístico pormenorizam os locais ou as atividades merecedoras de visitar ou praticar. O site Tripadvisor aconselha, para 2023, Díli, Ataúro e Balibó, mas outras fontes na internet são mais elaboradas. O The Crazy Tourist enumera os “15 melhores lugares para visitar em Timor-Leste”, a saber: Díli, ilha de Ataúro, Baucau, Suai, Lautém, Maubisse, Lagoa Ira Lalaro e Com (também em Lautém), Monte Matebian (em Baucau), ilha de Jaco, Same, Betano (em Manufahi), Monte Ramelau (em Ainaro), Marobo (termas de Bobonaro) e Parque Nacional Nino Konis Santana (também em Lautém).
Via site Pickvisa encontramos mais atividades do que propriamente locais. Publicitam-se as “dez razões pelas quais vale a pena visitar Timor-Leste”. São elas: 1. Experiências de mergulho espetacular; 2. Snorkelling, uma experiência inesquecível; 3. Praias maravilhosas e idílicas; 4. A ilha de Ataúro, lugar favorito em Timor-Leste; 5. Ótimos locais para observação de aves; 6. Ilha de Jaco, altamente ‘instagramável’; 7. As belas-artes e artesanato; 8. O Parque Nacional Nino Konis Santana; 9. Vários eventos e festivais musicais e culturais e 10. Excelentes trilhos para caminhadas.
Outra fonte, o site Nomadicated, lista atividades específicas para locais identificados enumerando os “17 pontos turísticos de um dos países mais recentes do mundo”. A curiosa lista inclui: subir as escadas do Cristo Rei em Díli; aprender sobre a história sangrenta de Timor-Leste no Museu da Resistência; visitar o Café Memorial em Dare; passear no Jardim do Palácio do Governo; comer nas bancas de comida na praia dos Coqueiros; visitar as instalações e exposições do Centro Nacional Chega; frequentar as Noites do Cinema do Café Beach Side; fazer compras no Timor Plaza; passear de carro por Ataúro; fazer uma escapadela à Praia do Dólar; ver os três lagos em Tasi Tolu; caminhar entre as ruínas da luta dos combatentes na montanha Matebian; ir ao topo do Monte Ramelau (e admirar o nascer do sol); visitar o ilhéu de Jaco; admirar uma casa sagrada timorense, fotografar a arquitetura de Baucau e visitar o exclave do Oé-Cusse.
Os cuidados a ter pelos turistas em terras timorenses
Alguns sites avisam que a maior queixa dos turistas que já visitaram Timor-Leste por via aérea é a compra de um “visto à chegada”. Antes de serem autorizados a entrar no terminal do aeroporto, os viajantes internacionais têm de fazer fila no exterior e esperar para comprar, em dinheiro, um “visto de turista” de um mês por 30 dólares americanos. Sobre o dinheiro, outros turistas que por terras timorenses já estiveram lamentam: “Em Timor-Leste utilizam notas de dólar americano, mas têm as suas próprias moedas, o que torna a situação um pouco confusa. O facto de usarem notas americanas faz com que os preços subam. Se vier da Indonésia, sentir-se-á logo pobre”.
O já referido site Nomadicated avisa: “certas zonas de Díli podem ser um pouco perigosas à noite pelo que é necessário ter alguma cautela na cidade. Embora a criminalidade não seja um problema grave nas zonas rurais, têm-se registado casos de furto em pequena escala em casas ocupadas por estrangeiros e a agressão, embora rara, é um risco que não deve ser encarado de ânimo leve”.
No site Smartraveller especifica-se que, em Díli, “tenha cuidado com Tasi Tolu, Comoro e outras áreas movimentadas. Os crimes violentos e os pequenos crimes não são comuns, mas o risco aumenta à noite e se viajar sozinho. Por vezes, os criminosos têm como alvo os estrangeiros”. Aconselha-se especial cuidado com “a violência relacionada com gangues, roubos, nalguns casos à mão armada, e assaltos” e pede-se um comportamento que evite “exibir joias caras ou transportar grandes somas de dinheiro”. No domicílio e no automóvel aconselha-se a trancar todas as portas, mesmo quando se está em casa, e a conduzir com as portas trancadas e as janelas fechadas e, mesmo aí, corre-se o risco de “pedradas nos veículos em períodos de instabilidade política”.
Turistas devem conservar alguma prudência face à cultura local, o que inclui o modo como se vestem. Diz-nos o site Timor-Leste Travel and Safety: “as normas de vestuário e de comportamento são conservadoras. Não use roupas reveladoras em locais públicos, igrejas ou mercados. O ruído alto e o comportamento imprudente em dias religiosos são ofensivos” incluindo “evitar demonstrações públicas de afeto já que não são socialmente aceitáveis”. Especificamente para as mulheres, o conselho “vistam-se com recato” não é incomum.
A mesma fonte emite aviso sério: “Os viajantes podem ser vítimas de assédio sexual, incluindo comentários obscenos e exposição indecente. Embora os agressores visem maioritariamente as mulheres, também podem assediar os homens. As agressões sexuais podem ocorrer em locais públicos, como a Beach Road em Díli. Viaje em grupo se puder, incluindo quando fizer exercício ao ar livre. Não utilize transportes públicos ou táxis sozinho, especialmente à noite”.
O conservadorismo na questão de género é bem visível nos avisos dos sites. Dizem que “Timor-Leste não reconhece as relações de facto ou entre pessoas do mesmo sexo. As atitudes sociais e culturais em relação às relações entre pessoas do mesmo sexo são conservadoras pelo que se aconselha “evite-as”. Sentencia-se: “a violência de género é elevada em Timor-Leste e o assédio sexual é bastante comum” pelo que não estranha a ideia de que “há relatos de assédio e violência contra mulheres, em Díli, Tasi Tolu, Comoro e outras áreas movimentadas, tenha cuidado”. Como consequência, à pergunta “Timor-Leste é seguro para as mulheres que viajam sozinhas?” a resposta não varia muito: “as mulheres devem evitar andar sozinhas à noite e estar atentas ao que as rodeia”.
À natureza de Timor-Leste também impendem avisos para os viajantes estrangeiros em terras timorenses. Avisa-se, em diferentes sites, para seguir os conselhos das autoridades locais em diversas situações, tais como “eventuais ataques de crocodilos nos distritos orientais e ao longo da costa sul, nas praias e nos cursos de água interiores, incluindo em Díli”, “durante a estação das chuvas, de novembro a abril, ocorrem fortes tempestades. As inundações e os deslizamentos de terras podem danificar as estradas e interromper os serviços” e “Timor-Leste pode sofrer terramotos e tsunamis. Conheça os sinais de alerta de tsunami e dirija-se imediatamente para um local elevado”, mas, neste caso, “não espere pelos alertas oficiais”.
Finalmente, aviso aconselhável em qualquer parte do mundo “Não interfira nos processos políticos locais nem participe em atividades políticas. Se o fizer, incorre em multas, detenção ou deportação”.
Conclusão
Os cuidados a ter pelos turistas em terras timorenses acima listados parecem fazer temer uma visita a Timor-Leste, na qualidade de turista ou não. Pintam uma imagem de perigo iminente que achamos demasiado alarmista para o país. Fomos consultar outros sites com informação turística e encontramos conselhos e avisos iguais ou muito semelhantes para outros países do Sudeste Asiático como a Indonésia, o Vietname, Laos, a Malásia, a Tailândia, o Camboja e as Filipinas, coincidentemente países da ASEAN. Julgamos que há algum exagero não só nas potencialidades turísticas, como nos cuidados que os turistas devem ter. Muitos destes últimos devem ser considerados em qualquer lugar do mundo. Como aponta o Timor-Leste Travel and Safety, os turistas “devem tomar as mesmas precauções que tomariam em qualquer outro país”. Todavia, os locais turísticos timorenses e as especificidades que lhes adjudicam apenas existem em Timor-Leste e só nele podem ser desfrutadas.
(Para informações mais detalhadas, ver Timor-Leste (East Timor) | Official Travel & Tourism Guide)
Jornalista: Afonso do Rosário
Editora: Isaura Lemos de Deus
