DÍLI, 23 de junho de 2023 (TATOLI) – Imelda Felicyta Ximenes Belo, 24 anos, é uma atleta de natação que tem representado a seleção nacional em eventos internacionais. Competiu na prova feminina de 50 metros livres nos Jogos Olímpicos de Verão de 2020. É o seu maior feito internacional até ao momento.
Imelda Belo trabalha na empresa Bolloré, é professora de natação para militares timorenses e tutora de natação para pessoas com deficiências, em Díli. Finalmente, é também estudante finalista na Faculdade de Engenharia Civil onde, curiosamente, quer aprender a planear piscinas modernas.
Os primórdios
Imelda Belo nasceu em Baucau, no dia 24 de outubro de 1998. A jovem começou a nadar aos 14 anos na sua terra natal, quando um grupo da Federação Internacional de Natação (FINA, em francês) começou a ensinar crianças locais.
Contou que, quando era criança, costumava passar perto de piscina de Baucau, mas não nadava por não ter roupas de reserva para usar depois de molhada. Limitava-se a observar as colegas que brincavam na água. “O meu interesse pela natação foi algo espontâneo. Inicialmente não queria envolver-me em qualquer grupo de natação. Na altura, uma das amigas da minha mãe era guarda da piscina de Baucau, por isso, depois das aulas, ela deixava-me brincar na piscina”, contou Imelda sorridente.
Entretanto, foi observada por olheiros da FINA que observavam outras aprendizes de natação. A organização demonstrou interesse por Imelda e selecionou a jovem para o grupo de crianças a ser alvo de formação. “Fui sinalizada pela comissão [da FINA] por causa da minha prestação logo no primeiro dia em que fui observada na piscina de Baucau”.
Inquirida sobre a possibilidade de ser incluída num grupo de nadadoras, sem pensar duas vezes, a jovem respondeu ‘sim’. Foi naquele dia que se começou a desenhar a sua carreira na natação.
O convite formal chegou quando Imelda estava no 10.º ano do ensino secundário. Concretamente um contacto da FINA, intermediado pela Federação de Natação de Timor-Leste (FNTL), a comunicar que tinha sido selecionada e que tal envolveria uma viagem ao estrangeiro, concretamente à Tailândia, para aprender técnicas de natação. “Quando recebi o contacto por parte de comissão fiquei muito contente, mas tive medo também por não ter informado os meus pais e a minha escola, mas aceitei”, contou a jovem. Sim, Imelda era menor de idade.
Desejos não coincidentes
Da sua decisão unilateral resultou um desentendimento entre a família e o diretor da escola. A mãe dizia-lhe que envolver-se na natação era uma grande oportunidade e que se não iria repetir no futuro. O diretor da escola, por sua vez, queixou-se de não sido informado atempadamente e não viu com bons olhos a saída de Imelda da escola em meados do segundo trimestre do ano escolar.
Pouco tempo depois, a FINA formalizou o convite junto da escola de Imelda enviando uma carta onde pedia autorização de viagem para a Tailândia. Vingou o desejo familiar. Seguindo os conselhos da mãe e as suas convicções de ser uma atleta profissional e representar o país, a jovem deixou a sua terra natal e, junto com colegas, foi para a Tailândia. Lá ficou um ano. Estávamos em 2015.
Em terras tailandesas
Apesar de ter dificuldades em línguas estrangeiras, Imelda relatou que sempre foi incentivada a aprender técnicas de natação com amigos com quem tinha uma relação muito próxima na Tailândia. “Viver sozinha fora do país é difícil, mas isso não foi uma barreira que desmotivasse a minha ambição de ser uma atleta profissional no futuro”, contou Imelda.
Logo nas primeiras semanas, Imelda sentiu vergonha face à circunstância de não ter equipamento de natação apropriado. “Fiquei muita chocada por ouvir palavras más sobre a minha aparência. Alguns dos meus colegas chamaram–me ‘mulher de outro planeta’ por não usar roupas adequadas para a natação”.
Mas o empenho resultou: a atleta começou a participar nos campeonatos mundiais de natação em 2017 e foi a primeira nadadora de Timor-Leste a competir nos Jogos Asiáticos. Desde então já participou em eventos de natação no Vietname, na Austrália, na Indonésia, no Japão, nas Filipinas e na Coreia do Sul.
A tripla motivação
Para Imelda Belo, a natação tem uma motivação tripla: ensinar a nadar, aprender a construir piscinas (via curso de Engenharia Civil) e representar o país ao mais alto nível.
A jovem confessou que teve medo de ser entrevistada porque ainda não ganhou qualquer medalha para o país. Ainda assim, na conversa que a Tatoli manteve com ela, Imelda revela nunca ter perdido a coragem de partilhar as suas experiências de natação.
Com a experiência internacional, a jovem descobriu que, embora muitas pessoas queiram apender a nadar, apenas o fazem por razões práticas: profissões que envolvem a prática (por exemplo, a pesca) ou por razões meramente recreativas e nunca a coragem de ir mais longe e profissionalizar-se em natação. Além disso, diz Imelda, “a maioria das pessoas tem dificuldade em aprender técnicas de natação”, acrescentando que a natação é uma atividade importante para um país onde as pessoas gostam de ir à praia, mas não dominam técnicas que previnam riscos. “Observo que muitas vezes acontecem acidentes nas praias por muitas pessoas não dominarem minimamente a natação”.
Acrescentou uma outra razão: “Timor-Leste é uma ilha e tem praias bonitas. Sem peritos em natação, os jovens nunca estarão aptos a explorar a beleza da nossa biodiversidade marítima”.
Equipa da TATOLI