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“Para melhorar o português é preciso investir nos media”, destaca Coordenador de programa de formação de professores

“Para melhorar o português é preciso investir nos media”, destaca Coordenador de programa de formação de professores

Coordenador do Projeto PRO-Português, Armindo Barros.

DÍLI, 13 de maio de 2023 (TATOLI) – A Constituição da República Democrática de Timor-Leste, no artigo 13.º, consagra o português como uma das línguas oficiais. O idioma de Camões está interligado ao passado colonial e à história timorense, sendo parte da identidade e cultura do povo.

Sabendo que o país integra a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) desde a restauração da independência, a 20 de maio de 2002, a evolução do idioma no território ainda é um desafio. Pouco mais de 30% da população domina a língua em Timor-Leste, de acordo com o Censos de 2015 o que, não obstante, constitui um acréscimo em relação aos 23,5% em 2010 de acordo com dados dos jornais Observador (26/10/2019) e Público (22/04/2012), respetivamente.

Há muitos fatores que contribuem para dificultar esta evolução linguística, entre eles, a influência de outros idiomas, como o bahasa e o inglês.

Nesta ordem de ideias, a Tatoli entrevistou o Coordenador-Geral do Projeto PRO-Português, Armindo Barros. Trata-se de um projeto de formação de língua portuguesa para professores, dos níveis A2 a B2, que funciona desde 2019. Até agora, formaram-se quase três mil docentes. Na conversa, Armindo Barros falou dos obstáculos para o desenvolvimento do idioma em Timor-Leste e demonstrou otimismo: “o português tem a possibilidade de progredir, mais do que no início da independência”.

Tatoli – Antes de trabalhar no PRO-Português, participou em vários projetos sobre a língua de Camões? Pode falar-nos sobre a sua experiência?

Armindo Barros Em 2003, assumi a responsabilidade de coordenar um serviço do Instituto de Formação de Professores (IFCP), na altura, envolvendo um projeto brasileiro chamado PROFEB, que visava formar professores que ainda não tinham concluído os seus estudos, tanto no ensino secundário como no ensino superior. O programa destinava-se a facilitar aos professores a obtenção de habilitações literárias ou de diplomas do ensino secundário, conforme as exigências do então Ministério da Educação Juventude e Desporto.

Depois, também me envolvi num projeto da cooperação portuguesa que disponibilizou centenas dos seus professores para reintroduzir a língua portuguesa nas escolas do território.

Em 2005, realizamos uma cooperação com o Brasil, que apoiou 25 formadores para ensinar os professores. De 2016 a 2018, eu e o Raimundo Neto, atual Diretor-Geral do Plano, Política e Inclusão do Ministério da Educação, Juventude e Desporto, fizemos parte do projeto Formar Mais, que visava dotar professores e dirigentes escolares de competências científicas e pedagógicas .

Tatoli – Qual é a sua opinião sobre a evolução da língua portuguesa em Timor-Leste?

Armindo Barros Reconheço que Timor-Leste é um país que se caracteriza por um cenário de pós-guerra. Das gerações que nasceram depois da invasão indonésia ou foram jovens no tempo da ocupação, a maior parte não fala português. Mas muitas querem aprender o idioma. Do meu ponto de vista, o português tem a possibilidade de progredir, mais do que no início da independência.

Tatoli – Sabemos que há pouca diferença entre o português do Brasil e o português de Portugal. Acha que isto incomoda os interessados em aprender?

Armindo Barros Eu também aprendi português no Brasil e inicialmente tive dificuldade em aprendê-lo, mas é importante ter vontade. Penso que o português é o mesmo, mas a forma de pronunciar algumas palavras de um e outro é diferente bem como algumas expressões. Por exemplo, a palavra Brasil, para o português europeu, tem a mesma forma e sons, mas para o português brasileiro, lê-se Braziu.  Mas, de facto, a maioria das gramáticas são quase iguais.

Não se pode pensar que o português é incómodo”

Tatoli – Se tivéssemos um tétum padrão, seria possível influenciar a aprendizagem do português? O português é uma língua auxiliar para melhorar o tétum?

Armindo Barros Falamos frequentemente tetunguês, onde o tétum é  uma mistura com o português. Na minha opinião, quando praticamos o português, influenciamos diretamente o tétum. Usamos palavras  derivadas do português, por exemplo, obrigado, bom dia e adeus. É por isso que não se pode pensar que o português é incómodo.

“Quando praticamos o português, influenciamos diretamente o tétum”

Tatoli – Como é que português pode competir com outras línguas estrangeiras como o bahasa e o inglês?

Armindo Barros Acredito que não há competição entre o português, o inglês e o indonésio, porque os timorenses são livres de escolher a língua que querem aprender. Espero que qualquer que seja a língua que aprendam, que escolham aquela os possa ajudar no seu desempenho profissional ou nos seus estudos.

Tatoli – Quais são os meios necessários que o governo precisa de criar para o desenvolvimento do português?

Armindo Barros Acho que governo timorense, através do Ministério da Educação Juventude e Desporto, esforçou-se para manter a formação da língua portuguesa para professores. Mas é importante melhorar a qualidade linguística dos professores e assegurar o compromisso para o ensinar. Por exemplo, se os professores falarem bem português, quando eles ensinam os estudantes, os estudantes vão praticá-lo em casa, junto com a família. Um ponto importante, a meu ver, para melhorar o português, é investir nos media, como a televisão, mas, infelizmente, esse investimento é caro.

Tatoli – Pode explicar o programa do PRO-Português?

Armindo Barros O principal objetivo deste projeto é melhorar as competências linguísticas dos professores. O projeto PRO-Português teve início a 5 de maio de 2019 e estava sob a responsabilidade de Marino Tavares, mas devido a um problema de saúde, o Ministro da Educação delegou-me este cargo.  Além disso, o projeto não correu bem por causa de pandemia da Covid-19.

“Atualmente, quase três mil professores estão capacitados para ensinar o português”

Em 2021, o projeto foi prolongado até 2024. Começamos por abrir 106 vagas para candidatos a formadores, estes tiveram uma formação de língua portuguesa e, no fim, selecionamos apenas 53 pessoas, sendo que os restantes são suplentes. Depois disto, os formadores foram enviados para os municípios. Atualmente, quase três mil professores estão aptos a ensinar o português. Se os atuais professores concluírem com sucesso o curso de nível B2, estamos otimistas que eles terão competência para ensinar a língua portuguesa.

Reconheço que alguns professores têm dificuldades nesta língua. Tive uma experiência num evento na Região Administrativa Especial Oé-Cusse. Fui lá e falei em português com os professores. Vi que nenhum deles comentou a minha apresentação e decidi perguntar a um professor: “por que não quer acrescentar algumas ideias?”. Ele disse-me: “desculpe, mas eu não tenho língua [não sei falar português], por isso não quero falar”.  Depois voltei a perguntar-lhe: “quantos alunos têm?”, “tenho 40 alunos”, respondeu o professor. Sublinhei que “isso significa que tem 40 línguas”. Vi que o professor estava surpreendido. Mas o que eu queria dizer, através desta história, era que reforçar a formação de professores na qualidade linguística é muito importante.

Tatoli – Pode deixar uma mensagem para as novas gerações que ainda estão a aprender português?

Armindo Barros Para ser fluente, há que se fazer um esforço e praticar frequentemente a língua com outras pessoas. Sei que muitos timorenses têm vergonha de a falar. Não importa se as gramáticas são diferentes. Temos de falar português.

Equipa da TATOLI

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