DÍLI, 12 de novembro de 2022 (TATOLI) – O massacre do cemitério de Santa Cruz, a 12 de novembro de 1991, foi considerado uma situação trágica, nacional e internacionalmente. O sentimento de afronta é maior quando vem à memória a circunstância daquele massacre ter acontecido durante uma cerimónia religiosa de homenagem a Sebastião Gomes, jovem e membro da então resistência timorense (a RENETIL), assassinado dias antes por militares indonésios. Manifestações de repúdio e revolta face à presença de soldados indonésios, desde a igreja de Motael ao cemitério de Santa Cruz, originaram confrontos entre populares timorenses desarmados e tropas indonésias armadas, que causaram, dizem algumas fontes, 271 mortos e 382 feridos. Fala-se, também, de cerca de 250 desaparecidos.
Foi neste contexto conturbado que Max Stahl, jornalista australiano então em Timor-Leste, ligou a sua câmara e, no que lhe foi possível filmar, captou imagens que percorreram o mundo e despoletaram uma indignação internacional que contribuiria, decisivamente, para o início do processo que resultaria na independência plena de Timor-Leste. Em 2002, o país tornou-se o primeiro Estado-Nação a nascer no século 21.
Hoje, celebra-se o 31.º aniversário daquela fatalidade. O Executivo timorense decidiu atribuir um orçamento de cerca de 100 mil dólares para comemorar uma data que coincide com o Dia Nacional da Juventude. A celebração vai incluir várias atividades, desde desportivas (incluindo motociclismo) a socioculturais, até palestras que evocam as duas efemérides. Estas últimas visam dar a conhecer episódios específicos do massacre, bem como o valor histórico para os timorenses, às novas gerações que nasceram depois do dia 12 de novembro de 1991.
Saber do conhecimento e da opinião que os atuais jovens têm do massacre do cemitério de Santa Cruz foi, justamente, o objetivo do, também jovem, jornalista da Tatoli.

Isaías Soares, de Díli, estudante e membro da organização Asia Justice and Rigths (AJAR) refere-se à sua pessoa como parte de um todo, afirmando que “os jovens deviam ter uma consciência que ajudasse a reunificar e contribuir para a unidade do nosso país, de modo a cria a estabilidade e desenvolver Timor-Leste. Isaías é perentório: “Já está na hora de a juventude reunir forças, como fizeram os nossos antepassados, porque nós devíamos ser uma continuação dos jovens de antigamente”. Para o jovem, “ser um bom cidadão é levar Timor-Leste para a frente”.

Artemísia Guterres Cabral, de Baucau, também estudante, lembra que, por via do “12 de novembro de 1991, o mundo internacional reconheceu a luta de Timor-Leste pela independência”, e tem uma opinião semelhante à de Isaías. Artemísia acha que, no dia do massacre, “a maioria dos jovens sacrificou a sua vida para hoje o país ser soberano e democrático”. Por consequência, a geração atual “tem de seguir a geração jovem do passado para, de um modo unido, contribuir para desenvolver Timor-Leste”.

Grácia Soares, jovem estudante de Lospalos, classifica o dia 12 de novembro como um dia “trágico e inesquecível”, mas preponderante para Timor-Leste se tornar “independente e soberano”. Grácia evoca o espírito de sacrifício e de união da geração jovem de 1991 afirmando que “naquele dia, os jovens tiveram muita coragem para lutar pela independência, mesmo com muito sofrimento, mas sempre unidos para lutar até a vitória”. A jovem segue, no seu discurso, o mesmo tom que Isaías e Artemísia ao afirmar que “os jovens de hoje têm de prosseguir os exemplos dos sobreviventes”. Porquê? “Porque o futuro do país está nas mãos das gerações futuras”.

Também Dulce Fátima, de Díli e estudante da UNTL, classifica o 12 de novembro como “uma situação trágica na qual muitos jovens foram massacrados”, mas, nem por isso, deixaram de mostrar “coragem para lutar pela independência”. Dulce exprime um desejo para a sua geração. Ela acha que a “nova geração devia seguir o rasto dos jovens lutadores”.

Gildo Lopes, estudante da UNTL, à semelhança de Grácia, destaca o sacrifício da geração jovem dos anos 90. Para Gildo, no dia “12 de novembro, os jovens ofereceram as suas vidas pela independência para hoje Timor-Leste ser um país soberano e democrático”. Junto com Dulce partilha a opinião de que os jovens de agora devem usar a “capacidade intelectual” quer, especificamente, para “lutar contra a discriminação e injustiça” (Gildo) quer, em geral, para “criar paz e estabilidade no país” (Dulce). Para ambos é uma luta, mas uma luta “diferente”. Gildo é genérico no seu desejo. Gildo quer para Timor-Leste “uma coisa nova”.
Isaías e Grácia vão mais longe ao apontarem as divisões que prejudicam a união dos jovens atuais em torno de um objetivo comum: o desenvolvimento e progresso de Timor-Leste. O primeiro refere-se a divisões partidárias falando “das cores A e B” e a segunda aponta os “grupos de artes marciais”. Com uns e outros, defende Isaías, “é muito difícil continuar os princípios da geração anterior de jovens”.
Numa coisa Isaías, Artemísia, Graça Dulce e Gildo são unânimes: a geração de jovens de 1991 é um exemplo a seguir para a juventude atual.
Equipa Tatoli